Vinheta Auditiva?!

Vinheta Auditiva é uma série de minúsculas e intempestivas recensões críticas a podcasts sobre banda desenhada, ou temas relacionados com esta, publicadas semanalmente no blog da livraria Mundo Fantasma.

Entretanto, houve um pequeno intervalo [graças a um “ouvido de nadador” mal resolvido], mas a Vinheta Auditiva voltará em breve ao Mundo Fantasma com a mesma regularidade de sempre.

Vinheta Auditiva is a weekly review, written from a personal point of view, of pod-casts about comics and published in Mundo Fantasma‘s blog.

Vinheta Auditiva Parte Para Férias

A Vinheta Auditiva parte para férias, na mala leva tampões auriculares, protector solar para os lóbulos das orelhas e gotas ontológicas, é que com tanta braçada e mergulho, ainda corre o risco de apanhar “ouvido de nadador”.

O regresso anuncia-se lá para Setembro, com o pavilhão auricular arejado, o canal auditivo desentupido, o martelo, a bigorna e o estribo a vibrarem solidários com o tímpano e a cóclea apuradíssima, tudo pronto para a audição de compulsiva de novos podcasts, claro está.

Vinheta Auditiva: The Comicology

Dá pelo nome de The Comicology e é um podcast apresentado “on the the road”, ou pelo menos, a correr, por Neil Gorman, um tipo de uma simpatia e honestidade desconcertantes. Aquilo que espanta, para além da rapidez com que Neil fala, é o facto de algumas edições, gravadas à porta do trabalho ou no carro, resultarem, tanto pela limpidez de som como pela pertinência das opiniões, bem feitas É claro que quando o tempo começa a escoar, Neil vai dizendo “blá, blá, blá, etc, etc, etc” para avançar no assunto e chegar ao que interessa, porque afinal, não há nada mais aborrecido do que empatar a vida dos outros com detalhes, sobretudo quando os outros já sabem do que é que se está a falar. Fica então por dizer blá, blá, blá, etc, etc, etc, que este podcast é um dos mais interessantes que anda por aí blá, blá, blá, etc, etc, etc, por isso tratem de ouvi-lo com atenção, blá, blá, blá, etc, etc, etc, coisa e tal.

Vinheta Auditiva – Especial: Superman 1939

superman

A primeira aventura foi publicada em Junho de 1938, pouco depois, em 1940, com 1 250 000 de cópias de cada Action Comics a circular no mercado e um encaixe financeiro anual na ordem dos 950 mil dólares em direitos publicitários, já ninguém tinha dúvidas sobre a popularidade do Super-Homem.

Tanto é, que as aventuras foram de imediato vertidas para outros formatos e meios, como a rádio, onde se estrearam em Fevereiro de 1940, na nova-iorquina WOR, pela mão de Allen Ducovny, do departamento de comunicação da DC, e do escritor Robert Joffe Maxwell. A voz do Super-Homem pertencia a Bud Collyer [na foto] e as outras personagens rodaram por vários actores e actrizes, entre as quais se destaca, na voz de Lois Lane, a actriz Joan Alexander, que voltaria a fazer parceria com Collyer, entre 1941 e 1943, na série de animação dedicada ao super-herói e produzida pelos irmãos Fleischer [ responsáveis por outras séries de animação clássicas, como Popeye e Betty Boop].

Com episódios de 15 minutos de duração, as aventuras radiofónicas do Super-Homem “sindicalizaram-se”, ou seja, foram vendidas a outras estações de rádio, resistindo nas tabelas de audiências até Março de 1951. Aos ouvidos de hoje, os efeitos delirantes, a colocação de voz hiper-teatral, a redundância dos diálogos e a música de fundo a atirar para o épico, fazem de cada episódio uma extravagante experiência auditiva, que no entanto, não pode ser menosprezada. Já que Perry White e Jimmy Olsen, entre outras personagens, apareceram primeiro na rádio e só depois nos comics, acontecendo o mesmo com a kryptonite e a célebre abertura, “… É um pássaro! É um avião! Não! É o Super-Homem!”. Daí que a audição de Superman 1939, podcast de David Breyer dedicado em exclusivo a estas aventuras, seja altamente recomendada.

Tendo em conta que o personagem tresanda a mofo desde meados da década de 80 do século passado, haverá melhor regresso do que este?! Tenho as minhas dúvidas. Mofo pelo mofo, prefiro o uniforme com traças e cores esbatidas, como é o caso.

Vinheta Auditiva: Deconstructing Comics

Abreviar, em meia dúzia de linhas, um podcast, ou um livro, ou um disco, ou uma exposição, tanto faz, pede alguma lucidez e precisão na escrita, e a Vinheta Auditiva é, mais linha, menos linha, feita disso mesmo. Daí que hoje, e sobre o podcast Deconstructing Comics, apresentado por Tim, Brandon e Mulele, só se pode escrever, sem hesitar e a bem da saúde auditiva, o seguinte: é mal gravado, mal apresentado, e de fio a pavio, um intolerável calvário de boçalidades. Ponto final. Venha o próximo.

Vinheta Auditiva: Pipeline

Há mais de uma década, encontrar informação actualizada, e sobretudo detalhada, sobre as edições que estavam a chegar às bancas era um verdadeiro transtorno, e em momento de desespero, lá me metia no comboio e ia até à antiga Interzona, hoje Mundo Fantasma, para consultar o Grande Oráculo da Senhora da Hora. Sobre este meu tortuoso passado geek, confesso, não valerá a pena escrever muito mais, a não ser, que sempre detestei o Previews e outros calhamaços afins. Agora, sobre o podcast Pipeline vale a pena dizer que é semanal e que Augie De Blieck Jr., um tipo cheio de graça, sarcástico às vezes, é capaz de falar, em apenas alguns segundos e com precisão crítica, sobre qualquer título recente, e são dezenas deles por episódio. Acreditem, livrem-se dos camalhaços desta vida e agarrem-se ao Pipeline, que de espaço, ocupa pouco e só o do vosso disco duro.

Vinheta Auditiva: Comic Geek Speak

Sempre acreditei que tudo, por muito inútil e estranho que seja, tem um lugar na ordem natural das coisas, prova disso é o podcast Comic Geek Speak [CGS]. Apresentado por uma verdadeira força de intervenção geek, o CGS conta com Bryan, técnico e entusiasta do podcasting; Peter, um “latino” com um conhecimento enciclopédico sobre bd; Jamie, o gordo eclético e bem disposto; Shane, homem dos brinquedos, e Kevin, um fã de jogos. Gente que, em cada episódio, e já lá vão 142, sem contar com os especiais, tanto dá o seu melhor numa discussão sobre fatalismo histórico de V for Vendetta, como responde com carácter de urgência filosófica a grandes mistérios da bd, “como é que o Super-Homem corta o cabelo e faz a barba?”, e que de uma forma genuína se sente enganada, revoltada e angustiada com o X-Men III, filme que de resto, defendem, deveria ter mais, mas muitos mais, mutantes. Enfim, gente que não anda para aqui a brincar e dá, como se costuma dizer, o litro para conseguir um podcast 100 % puro geek, o que, acreditem, não é nada fácil. A recompensa?! Um lugar na difícil e extraordinária ordem natural das coisas.

Vinheta Auditiva: Comic Book Noise

Derek Coward nasceu em 67, é pai de três filhos, tem quatro gatos e apresenta o podcast Comic Book Noise, ou seja, é um pai de família dedicado que quer dar a ouvir ao mundo o gosto que tem pelos comics, um hobby de toda a vida. Aceita-se então, e de boa vontade, que Derek seja lento e completamente afectado a falar, se ria a propósito de nada e diga ri-dí-cu-lo em vez de ridículo, tudo bem, aceita-se. Infelizmente, não se percebe bem onde é que o Derek quer chegar com as aventuras e histórias que tem para contar, como a do dono de uma loja de comics alegadamente acusado de vender “material explícito” a menores, ou aquela outra em que se esqueceu de um caixote de comics em casa da ex-mulher, ou a dos comics que lhe saíram muito mais baratos no eBay, ou ainda a da primeira visita que fez a um salão de comics. Comics, comics, comics, malditos comics, que dão tanto que pensar ao Derek e a mim só me dão vontade de esmagar a porcaria do iPod quando o ouço falar neles.

Actualização – 08/06/06
Não foi em casa da ex-mulher que o Derek se esqueceu do caixote dos comics, mas sim, na do ex-cunhado. A história é tão complicada que fiquei confuso, erro meu.

“Derek Coward was born in 1967, he is a father of 3 children, has 4 cats
and presents the podcast Comic Book Noise. That means he is a dedicated
head of the family who wants to show the world his love for comics, a
lifelong hobby. We accept that Derek speaks in a slow kind of way, laughs
about stuff that pops in to his mind and says ri-di-cu-lous instead of
ridiculous. It’s ok, we accept all that. Unfortunately, we don’t
understand the whole point of some adventures and stories he has to tell.
For example, the one about an owner of a comic book shop
who was accused of selling “explicit material”, or the other long one when
he forgot a box with comics in his ex-wife* house, or even the first time he
visited his first comic convention. Comics, comics, comics ~ those damn
comics ~ which Derek speaks so much about, but I only feel like
smashing my iPod when I here him speak about them.”

* [Nr. 5 & Nr. 50 – Part II] Actually, it was your ex-brother-in-law house, but the story is so confusing that I thought it was your ex-wife house, my mistake. I will add this note to my review.

Vinheta Auditiva: I Read Comics

Consta que I Read Comics [IRC] é o primeiro podcast sobre comics apresentado por uma mulher, Lene Taylor, consta também que é fantástico, pela perspicácia com que são abordados temas, livros e autores, e que há nele um humor fino e cheio de charme. É o que consta, no entanto, sempre que ouço o IRC, há um quê de decepção. Tal acontece, quero acreditar, pelo vazio conclusivo a que tanta conversa leva, e depois, pela xaropada da identidade sexual, do corpo e da sensibilidade artística, coisas para as quais já perdi a paciência há muito e me estou bem a borrifar, em particular para a última. Poderia continuar à volta daquilo que acabei de escrever, tentar a crítica séria, dura e empenhada, erudita, mas a verdade, verdadinha, é que não suporto a voz trémula e o risinho enjoado de Lene Taylor. Diria, se tal existe, que não há qualquer química auditiva entre nós, e isso, parece-me, é obrigatório para se ouvir com atenção um podcast, o vizinho do lado, o colega de trabalho ou a pessoa que se ama. E acrescento, se fossemos um casal, eu, já deitado e com a Lene ao lado a pedir-me para ouvir o último podcast que gravou, dar-lhe-ia a mais corajosa e esfarrapada das mentiras: querida, hoje não, que estou com dores de ouvido. Depois, depois, virava-lhe as costas, apagava a luz e só pensava no divórcio.