Big Blow Baby

A génese da coisa: Big Blown Baby nasce duma copulação forçada entre uma máquina e um dos filhos de Odin, supostamente Thor. Logo após o nascimento Big Blown Baby é enviado para a terra numa nave espacial, caindo no meio dos tomates de um pai de família americano. Enfurecido, e com razão, o pai destomatado luta com Big Blown Baby.

A premissa criativa deste comic é parodiar a Marvel, para que isso pudesse ser feito Bill Wray partiu do princípio que não seria suficiente utilizar o universo de um personagem, e resolveu também atacar um dos grandes pais fundadores da corporação, Jack Kirby. Para se parodiar o que quer que seja há que ser metódico, e para se ser metódico, o melhor é não deixar nada ao acaso e ter um bom argumento, que é o mesmo que dizer, verificar a munição e usar um colete à prova de bala. Bill Wray parece ter-se esquecido das duas coisas nesta abordagem muita louca ao complexo de Édipo, o que faz com que a tentativa de matar esse pai repressor e nada afectuoso que é a Marvel seja um desastre. Tudo neste comic é inenarrável e disléxico, parece que foi escrito algures entre 67 e 69 em S. Francisco, durante um período de “consciência mais elevada das coisas”, no intervalo de uma meditação sobre o livro Easy Journey to Other Planets, escrito pelo seu amigo Tridandi Goswami A. C. Bhaktivedanta Swami; e revisto agora, enquanto Bill lamenta a perda de mais dois cabelos e convida um amigos para ouvir Grateful Dead. No entanto, a culpa não é só dele, há que acreditar que alguém perdeu a cabeça quando decidiu editar isto. Ou então, não terá lido com atenção, limitando-se a olhar para o desenho, ouvir a conversa de Bill Wray e achar que até era uma boa maneira de atacar a concorrência.

O que é pena, porque Bill Wray desenha bem, muito bem mesmo, mas perante uma coisa destas tudo não passa de um exercício pirotécnico de estilo. Para quem não identifica o nome aqui vai, este senhor era um dos escravos que desenhava a animação de Ren & Stimpy. Como qualquer escravo digno do grau que lhe foi conferido, teve a sorte de estar no lugar certo e carregar a pedra certa, o que em si é uma grande vantagem. Aproveitar-se desse facto, ter o nome numa ficha técnica, mandar uma ou outra ideia para o ar, isso até é normal, mas normal nunca foi uma palavra que definisse nada nem ninguém.

Big Blow Baby
Bill Wray e Robert Loren Fleming
Dark Horse – 34 pp, PB

Texto publicado na revista Quadrado, Volume 3, Nº1, Janeiro de 2000.