Sempre acreditei que tudo, por muito inútil e estranho que seja, tem um lugar na ordem natural das coisas, prova disso é o podcast Comic Geek Speak [CGS]. Apresentado por uma verdadeira força de intervenção geek, o CGS conta com Bryan, técnico e entusiasta do podcasting; Peter, um “latino” com um conhecimento enciclopédico sobre bd; Jamie, o gordo eclético e bem disposto; Shane, homem dos brinquedos, e Kevin, um fã de jogos. Gente que, em cada episódio, e já lá vão 142, sem contar com os especiais, tanto dá o seu melhor numa discussão sobre fatalismo histórico de V for Vendetta, como responde com carácter de urgência filosófica a grandes mistérios da bd, “como é que o Super-Homem corta o cabelo e faz a barba?”, e que de uma forma genuína se sente enganada, revoltada e angustiada com o X-Men III, filme que de resto, defendem, deveria ter mais, mas muitos mais, mutantes. Enfim, gente que não anda para aqui a brincar e dá, como se costuma dizer, o litro para conseguir um podcast 100 % puro geek, o que, acreditem, não é nada fácil. A recompensa?! Um lugar na difícil e extraordinária ordem natural das coisas.
Categoria: BD
Vinheta Auditiva: Comic Book Noise
Derek Coward nasceu em 67, é pai de três filhos, tem quatro gatos e apresenta o podcast Comic Book Noise, ou seja, é um pai de família dedicado que quer dar a ouvir ao mundo o gosto que tem pelos comics, um hobby de toda a vida. Aceita-se então, e de boa vontade, que Derek seja lento e completamente afectado a falar, se ria a propósito de nada e diga ri-dí-cu-lo em vez de ridículo, tudo bem, aceita-se. Infelizmente, não se percebe bem onde é que o Derek quer chegar com as aventuras e histórias que tem para contar, como a do dono de uma loja de comics alegadamente acusado de vender “material explícito” a menores, ou aquela outra em que se esqueceu de um caixote de comics em casa da ex-mulher, ou a dos comics que lhe saíram muito mais baratos no eBay, ou ainda a da primeira visita que fez a um salão de comics. Comics, comics, comics, malditos comics, que dão tanto que pensar ao Derek e a mim só me dão vontade de esmagar a porcaria do iPod quando o ouço falar neles.
Actualização – 08/06/06
Não foi em casa da ex-mulher que o Derek se esqueceu do caixote dos comics, mas sim, na do ex-cunhado. A história é tão complicada que fiquei confuso, erro meu.
“Derek Coward was born in 1967, he is a father of 3 children, has 4 cats
and presents the podcast Comic Book Noise. That means he is a dedicated
head of the family who wants to show the world his love for comics, a
lifelong hobby. We accept that Derek speaks in a slow kind of way, laughs
about stuff that pops in to his mind and says ri-di-cu-lous instead of
ridiculous. It’s ok, we accept all that. Unfortunately, we don’t
understand the whole point of some adventures and stories he has to tell.
For example, the one about an owner of a comic book shop
who was accused of selling “explicit material”, or the other long one when
he forgot a box with comics in his ex-wife* house, or even the first time he
visited his first comic convention. Comics, comics, comics ~ those damn
comics ~ which Derek speaks so much about, but I only feel like
smashing my iPod when I here him speak about them.”
* [Nr. 5 & Nr. 50 – Part II] Actually, it was your ex-brother-in-law house, but the story is so confusing that I thought it was your ex-wife house, my mistake. I will add this note to my review.
Vinheta Auditiva: I Read Comics
Consta que I Read Comics [IRC] é o primeiro podcast sobre comics apresentado por uma mulher, Lene Taylor, consta também que é fantástico, pela perspicácia com que são abordados temas, livros e autores, e que há nele um humor fino e cheio de charme. É o que consta, no entanto, sempre que ouço o IRC, há um quê de decepção. Tal acontece, quero acreditar, pelo vazio conclusivo a que tanta conversa leva, e depois, pela xaropada da identidade sexual, do corpo e da sensibilidade artística, coisas para as quais já perdi a paciência há muito e me estou bem a borrifar, em particular para a última. Poderia continuar à volta daquilo que acabei de escrever, tentar a crítica séria, dura e empenhada, erudita, mas a verdade, verdadinha, é que não suporto a voz trémula e o risinho enjoado de Lene Taylor. Diria, se tal existe, que não há qualquer química auditiva entre nós, e isso, parece-me, é obrigatório para se ouvir com atenção um podcast, o vizinho do lado, o colega de trabalho ou a pessoa que se ama. E acrescento, se fossemos um casal, eu, já deitado e com a Lene ao lado a pedir-me para ouvir o último podcast que gravou, dar-lhe-ia a mais corajosa e esfarrapada das mentiras: querida, hoje não, que estou com dores de ouvido. Depois, depois, virava-lhe as costas, apagava a luz e só pensava no divórcio.
Vinheta Auditiva: ReFrederator
O ReFrederator [RF] é um videocast diário feito pelos estúdios Frederator, produtora de boas e bem sucedidas séries, como The Fairly OddParents, Johnny Bravo, Dexter’s Laboratory, Cow and Chicken e The PowerPuff Girls, entre outras. Sem mais, cada episódio é dedicado a clássicos da animação, de todo obrigatórios, seja para relembrar ou descobrir. Uma curiosidade, o RF ouve-se tão bem como se vê, mas tão bem, que se pode deixar só a história a tocar. Se acham isto estranho, façam a experiência com o primeiro e tirem a dúvida. De resto, será melhor guardar cada episódio em arquivo, antes que a borla se acabe ou eles desistam de a fazer, porque azares desses acontecem. Impõem-se por isso perguntas de fino recorte existencialista: Vasco Granja, onde estás tu?! Não há ninguém que te dê um iBook e te ajude a fazer umas coisas destas?!?
Nota: a Frederator tem ainda outro videocast semanal, mais abrangente e actual, que pode ser descarregado aqui.
Vinheta Auditiva: Paquines Son Comics
Já aqui se escreveu sobre a força latina, ora: Paquines Son Comics [PSC], podcast de Puerto Rico, presentado por Paquinero y Fantomas, está lleno de fuerza, sí, pero es hecho con muchissima honestidad, algo raro hoy en día. Con un divertido y muy marcado acento portorriqueño, Paquinero y Fantomas hablan sobre todo de paquines [o sea, cómics] maistrim, como “Ria Ró: Ámericas Élit”, “Niú Avengêrs”, “Infinite Querisis”, “Saga del Quelón” o “Auze Óf Hél”. La mejor sección de PSC es el Rincón de los Recuerdos, donde los dos amigos rememoran experiencias pasadas, como el “gran viaje” para llegar hasta A Taime To Plái, la primera tienda de comics de Puerto Rico. Además, Paquinero, gran personage sin duda alguna, parece tener una estraña obsesión por la calidad del papel, “una porquería”, y por supuesto, por el precio de los paquines. Agora em português: o PSC é mais um exemplo de que o gosto genuíno, ainda que fanático, pela banda desenhada é universal e que para cada Paquinero e Fantomas de Porto Rico, há outros tantos, iguaizinhos, espalhados por cá e por todo o lado. Vai uma dica?! Aumentem a velocidade de reprodução para o dobro e engasguem-se de riso.
Vinheta Auditiva: Pixel Strips
Apresentado por Kevin Volo, Pixel Strips é um podcast que serve, acima de tudo, para promover o site de web comics homónimo e do qual Kevin é o editor. Entre anunciar novidades, comentar o que está em arquivo e relembrar até à exaustão que “as assinaturas são uma pechincha”, pouco mais há para ouvir, a não ser algumas notícias breves, mas de interesse altamente questionável. Enfim, um aborrecimento.
Vinheta Auditiva: The Golden Age of Comic Books
Apresentado por Bill Jourdain, The Golden Age of Comic Books [GAC], é um podcast dedicado à bd norte-americana publicada entre finais da década de 30 e 50 do séc. XX. Nele, Bill, um çopinha de maça com sotaque sulista, traça o perfil de todo o tipo de personagens [dos mais conhecidos aos obscuros], chama a atenção para edições históricas e publicações especializadas, havendo ainda, aqui e ali, notas soltas sobre vendas e exposições de clássicos. Simples e directo, cheio de detalhes e curiosidades, vale bem a pena ouvir o GAC sem pressas e com muita atenção. É que aprender História, assim mesmo, com maiúscula, é como comer çopa, nunca fez mal a ninguém.
Vinheta Auditiva: Around Comics
Apresentado por Chris Neseman, com produção [!] de Brian Salazar, Around Comics [AC] conta ainda com vários convidados que rodam entre as edições, nas quais se conversa de tudo um pouco, dos géneros e aquilo que os define, ao ponto da situação da indústria, passando pelo uso dos palavrões na bd. Boa disposição não falta e o amadoresco é assumido sem pudor, com falhas de memória, tosses inoportunas, vozes que se desvanecem, coisas a cair e até um irritante ruído de fundo que vai e vem à mistura. A única nota negativa é a duração, alguns AC têm mais de 1 hora, e a partir de um certo ponto, desligamo-nos daquilo que está a ser dito, por muito interessante que seja.
Vinheta Auditiva: Comic Geekos
Cheio de força latina, o Comic Geekos [CG], podcast salvadorenho gravado por Omarman, Roberto, Britoman, Lulius e Ticoman, ultrapassou este mês, num registo semiprofissional, a meia centena de edições. Infelizmente, não há motivos para grandes celebrações, já que o uso abusivo de risinhos histéricos e muita música acidental, cria tanto ruído à volta da informação que ouvir um CG, às tantas, torna-se num penoso e horrendo exercício auditivo. Resumindo, a exuberância geek, foi, é e será sempre uma coisa má.
Vinheta Auditiva: Comic News Insider
Há podcasts sobre bd para todos os gostos no iTunes, do mainstream ao alternativo, passando também pelos oficiais, como o da Marvel e o da DC. Um dos mais interessantes, já que indiferente a gostos, descontraído e com entrevistas a autores, é o Comic News Insider [CNI], gravado pelo Joe e pelo Jimmy. Bastará ouvir as últimas edições, dedicadas à New York Comic-Con, onde até há uma insólita entrevista à mãe do Paul Pope, para se perceber que vale tudo no CNI, e ainda bem.