Consta que I Read Comics [IRC] é o primeiro podcast sobre comics apresentado por uma mulher, Lene Taylor, consta também que é fantástico, pela perspicácia com que são abordados temas, livros e autores, e que há nele um humor fino e cheio de charme. É o que consta, no entanto, sempre que ouço o IRC, há um quê de decepção. Tal acontece, quero acreditar, pelo vazio conclusivo a que tanta conversa leva, e depois, pela xaropada da identidade sexual, do corpo e da sensibilidade artística, coisas para as quais já perdi a paciência há muito e me estou bem a borrifar, em particular para a última. Poderia continuar à volta daquilo que acabei de escrever, tentar a crítica séria, dura e empenhada, erudita, mas a verdade, verdadinha, é que não suporto a voz trémula e o risinho enjoado de Lene Taylor. Diria, se tal existe, que não há qualquer química auditiva entre nós, e isso, parece-me, é obrigatório para se ouvir com atenção um podcast, o vizinho do lado, o colega de trabalho ou a pessoa que se ama. E acrescento, se fossemos um casal, eu, já deitado e com a Lene ao lado a pedir-me para ouvir o último podcast que gravou, dar-lhe-ia a mais corajosa e esfarrapada das mentiras: querida, hoje não, que estou com dores de ouvido. Depois, depois, virava-lhe as costas, apagava a luz e só pensava no divórcio.