Máquina do Hype #14

Hype 14
© Last Nights Party

Peças Novas

A língua é uma coisa complicada, já se sabe. Escrever e cantar noutra que não a nossa, ainda mais. E fazer com que isso pareça tão nosso e tão natural, é no mínimo surpreendente. É o que se pode dizer de Pájaro Sunrise, banda da qual fazem Pepe López e Yuri Méndez, que editaram um álbum homónimo, todo cantado em inglês, com dez canções que ficam a meio caminho entre a pop, o jazz e o country. Não será, apostamos nisso, o “disco da vida” de Saramago, mas que é uma boa estreia dos Pájaro, é. E pronto não muito mais a dizer, a não ser que o Yuri nunca viveu num país de língua inglesa, e o pouco inglês que sabe, garantiu, aprendeu a ouvir música. Estará o truque na pronúncia dele?! A minha resposta: I don’t have puta idea, but I like it muchísimo. Agora, saltem já para o Ruído e ouçam em Sunday Morning Birds (Singin Hallelujah).

Peças Soltas

Há muitas peças soltas, pertencem todas ao DJ argentino Villa Diamante, e juntas dão uma compilação de mash-ups: Bailando Se Entiende La Gente. Como o próprio diz, “manteniendo la ley básica del mashapero free download mp3“, o disco está todo aqui, totalmente à borla. Assim, sim.

Peças Usadas

Cantavam os Táxi que a música também é um produto acabado que “se prova, mastiga e deita fora, sem demora”. A verdade, é que sem o reconhecimento de uma terceira cultura, a tal “sociedade de consumo imediato”, os prazos de validade nunca tinham sido inventados e a Pop tinha menos graça. Isto, a propósito dos Tiny Dancers, banda de Sheffield, Inglaterra, com um nome “inspirado” num hit [Tiny Dancer, 1971] de Elton John e que editaram um álbum de estreia, Free Milk School, cheio de canções que emulam o som de Neil Young, Beatles, e sobretudo, Byrds. Tudo pastilhas elásticas mastigadas e cuspidas vezes sem conta, algumas com um prazo de validade mais do que ultrapassado, mas que mesmo assim continuam a agarrar-se aos dedos, e por muito estranho que possa parecer, às vezes voltam à boca e sabem bem. É o caso de algumas canções, em particular Baby Love e Hannah We Know, mas fica por saber se esta ruminação musical dos Tiny Dancers, como tantas outras, é cuspida cá para fora na hora certa. Mais ainda: se cola ou não à parede. Ou seja, o mercado. A resposta, sem demora e acertada, é daquelas que vale um milhão de euros. E para acabar, registem-se no site deles, onde há sempre músicas para download gratuito.

Medição e Ensaio de Peças

Não sei bem se são os murmúrios, se os gemidos ou ainda a batida cheia e quente, mas Hot Damn de K-Chico, retirado de When I Was Young, poderia ser muito bem a banda sonora deste Verão. Isto se houvesse Verão. Como não há, não se vê, não se sente, pelo menos podemos ouvi-lo em Hot Damn, que de resto também poderia muito bem servir de banda sonora para as fotografias do grande Merlin Bronques, livro aqui!, que ilustram quase todas as edições da Máquina. Agora, é só passar pelo iTunes e comprar o Verão segundo São K-Chico.

Os mais sorumbáticos sempre podem optar por Panayir [Carnavalesco], finalmente no circuito internacional, no qual o trio da pianista turca Ayşe Tütüncü, cruza com destreza o clássico e a improvisação jazzística. Ideal, portanto, para quem olha com apreensão os areais molhados pela chuva. Não há autorização para um MP3, mas há um vídeo, aqui.

E pronto, foi o Hype.

Ruído da Máquina

Sunday Morning Birds (Singin Hallelujah)
Lovemonk Records – 2007
Pájaro Sunrise

Hot Damn [Feat. Namosh]
When I Was Young
Festplatten – 2007

K-Chico

Nota: A minha Máquina do Hype é publicada todas as segundas-feiras.
Os MP3s desta edição são autorizados, expressamente e por escrito, pelo[s] respectivo[s] autores[s] e serão retirados em 24 horas.

Máquina do Hype #13

Hype 13
© Last Nights Party

A Máquina chega com atraso, por isso mesmo, continua diferente na estrutura:

Detesto o número 13, não é que seja supersticioso ou coisa parecida, mas há qualquer coisa no próprio número de muito irritante. Irritante, porque quando reparo nele, de repente, começa a aparecer em todo o lado. E é precisamente esta persistência, ou omnipresença, que me irrita. Azares nunca tive, até porque acredito mais nos acasos: felizes ou infelizes. Acontece que quando estou em qualquer lado, virtude profissional, reparo em tudo o que é “gráfico”, desde um postal que esteja para oferta, ao tagging de uma parede, passando pelo desenho do cimento nos passeios. Há sempre qualquer detalhe importante nestas coisas, pelo menos para mim, por isso mesmo, não digo que não a panfletos, autocolantes, cartões e toda a tralha promocional que por aí há.

Há uns dias, deram-me um desses autocolantes, onde havia apenas um endereço: www.deathtosizo.com. Como a tipografia não ajudava, li Death To Siza [Morte Ao Siza] e pensei, aleluia! finalmente um “abaixo assassinato” contra o homem. Só depois é que percebi que não era Siza, mas Sizo. Achei então que se calhar seria um qualquer manifesto online contra o bom senso e a circunspecção, mas nesse caso, siso estava mal escrito, por isso, fiquei na mesma. Quando fui ver o site, percebi que afinal os Sizo são uma banda do Porto, ok, Morte aos Sizo!, e têm um álbum para download gratuito e legal, Nice To Miss You.

Um mês antes, estava perdido na zona de Boavista, não sabia bem onde ficava uma rua e pedi indicações a quem passava. Num muro, atrás da pessoa que me estava a dar indicações, vi grafitado: syzygy.com.pt. Conhecia a expressão da astronomia, mas mais uma vez, fiquei a pensar no que iria encontrar, e lá encontrei as Syzygy, colectivo de hip hop feminino, também do Porto, da qual fazem parte as MC Capicua e M7 e a vocalista Maria e com o EP Três Corpos Astrais Alinhados para download gratuito e legal no site delas. Resultado: naquele dia voltei a pedir ajuda para encontrar a tal rua, porque estive mais atento ao graffiti, do que às primeiras indicações que me foram dadas.

Deixando de lado a má navegação do site dos Sizo e o facto do das Syzygy não funcionar no Safari [tive que recorrer ao Firefox para aceder aos conteúdos], este marketing de guerrilha [?!] resultou muito bem em ambos os acasos. É claro que não tem a mesma amplitude de uma mailing list bem gerida ou de um comboio de amigos do MySpace, de qualquer modo, não é de menosprezar a força que meios de divulgação como estes, convencionais ou até mesmo artesanais, ainda têm. Mais ainda, como estão a cair em desuso, são tão paradoxais, que resultam contemporâneos. Resumindo: o autocolante e o graffiti levaram-me tentar perceber uma mensagem, a descobrir. E isto, é insubstituível como experiência.

O mais engraçado, é que tudo isto aconteceu em dois dias 13, o de Junho e este último, sexta-feira. E pronto, foi o Hype. O décimo terceiro.

Ruído da Máquina

Demo The Satan
Nice To Miss You
Deathtosizo.com – 2007
Sizo

Lobo Mau
Três Corpos Astrais Alinhados
Syzygy.com.pt – 2007
Syzygy

L’Amour
Nice To Miss You
Deathtosizo.com – 2007
Sizo

Nós Somos O Que És
Três Corpos Astrais Alinhados
Syzygy.com.pt – 2007
Syzygy

Nota: A minha Máquina do Hype é publicada todas as segundas-feiras.
Os MP3s desta edição foram legalmente disponibilizados pelo[s] respectivo[s] autores[s] em fórum próprio e serão retirados em 24 horas.