Um nada desleixado a vestir, Jordi Labanda está muito longe de ser a pessoa que imaginamos quando olhamos para as suas ilustrações de mulheres esguias, charmosas e a transbordar de bom gosto naquilo que vestem, as mesmas mulheres que lhe trouxeram clientes, fama e admiradores. Christian Lacroix e Mario Testino são dois incondicionais das mulheres de Labanda, ainda que nas ilustrações dele também apareçam homens de traços latinos e corpinho bem feito, demasiado convencidos do erotismo que uma camisa aberta até terceiro botão pode deixar escapar. Depois, depois disso há ainda as avós ternurentas e os miúdos marotos, a quem ninguém parece dar muita atenção.
Jordi Labanda nasceu em 1968 no Uruguai. Sendo filho de pais espanhóis, o pai de Barcelona a mãe do País Basco, seria natural que mais tarde ou mais cedo eles acabassem por voltar a Espanha, o que aconteceu quando Jordi tinha três anos. Escolheram Barcelona, onde Jordi continuou a desenvolver o seu talento natural para o desenho, disciplina em que sempre se evidenciou ao longo da sua vida escolar, isto até à adolescência, idade em que começou a cultivar um gosto profundo pela ilustração, em particular a de moda e costumes das décadas de 50 a 70. Solitário, e enquanto terminava o seu curso de Design Industrial no Centro de Arte e Design da Escola Massana, aplicou-se e construi um portfolio considerável, ainda que não soubesse muito bem que destino lhe haveria de dar. Isto até que em 1993, encorajado por um amigo, decidiu finalmente partir para os Estados Unidos e tentar a sua sorte junto dos jornais e revistas nova-iorquinas, bastando-lhe apenas alguns dias para receber um telefonema do New York Times a convidá-lo para ilustrar um artigo no suplemento de domingo.
Um início auspicioso e certeiro que lhe abriu as páginas desta longa e invejável lista de revistas: Woman, Elle,Vogue, Marie Claire, Amica, Allure, Details, Interview, Cosmopolitan, Elle, Mademoiselle, Marie Claire, The New Yorker, New Woman, Seventeen, Suddeutsch, Travel & Leisure, Big, V, Time e, claro, a Wallpaper. Apesar do sucesso em publicações internacionais, em Espanha Jordi apenas ilustra com regularidade para o El País, Qué Leer e Marie Claire, assinando também uma página humorística no suplemento do La Vanguardia, segundo ele, a colaboração que mais prazer lhe dá. É claro que o fenómeno não pára nas revistas e jornais, ajudado por dois agentes, um em Nova Iorque e outro em Londres, Jordi chegou com facilidade à ilustração comercial, assinando trabalhos para empresas como a Abercrombie & Fitch, American Express, Covergirl, Geffen Records, GinZing, Knoll International, Neiman Marcus, Nickelodeon, Pepsi, Sloggi, Ban de Soleil, Mascaro, Hard Rock Hotel, JVC, Robert Allen e Deutsche Bank.
O maior reflexo da popularidade alcançada por Jordi Labanda não está na quantidade de clientes, mas sim na quantidade de ilustradores que lhe copiam ou imitam o estilo, há mesmo quem lhe chame Labandismo, e já chegou a Portugal. Um facto que não o incomoda, muito pelo contrário, acredita que isso é uma prova inequívoca de que aquilo que faz é bom. Tem razão, as diferenças entre imitado e imitadores são nítidas: o imitado é um virtuoso sofisticado, atento ao detalhe e à composição, enquanto que os imitadores apenas se preocupam com o lado visualmente apelativo do estilo, que é o mesmo que dizer, esquecem a substância.
Texto publicado na revista Ícone, Junho de 2001.