Confesso que logo à partida gostei dele, e passei a gostar ainda mais quando na contracapa dos livros o vi de fato e gravata preta, meia de mulher enfiada na cabeça e com os filhos, Yhedra e Jhonatan, ao colo. Lindo. Álvarez Rabo, um dos melhores pseudónimos que conheço, define-se como sendo fruto da estupidez dos anos 80 e dos eclécticos anos 90, um intelectual humanista-marxista que segue todas as modas e que trabalha no El Corte Inglés.
Sincero. Álvarez Rabo tem um humor desgarrado e distorcido que gira à volta da sexualidade e do sexo, humor ibérico sem dúvida, onde a única e verdadeira filosofia é de ponta, mas pura e dura. Inteligente. Nada de trocadilhos, nada de elaborações, ao ponto de a um dado momento parar para pedir desculpa à própria mulher pela forma grosseira como conta a hora do chá entre um solteirona e três dos seus amigos, Piter, Jack e Lugumba. Romântico. Exemplar nos títulos das histórias: Como Saber Si Tus Senos, Vanguardia de Tu Sexo, Siguen Atrayendo La Cerda Mirada Masculina, com alguns a roçar o realismo mágico: Como Incentivar Tus Relaciones Anales de Pareja y Eliminar el Dolor Residual de Las Mismas, este próximo do realismo mágico: Como Hacerte a La Ideia de Que Estas Follando a Una Niña de 13 Años Cuando, en Realidade, Lo Estas Haciendo Con Una Mujer de 31. Poético. O desenho é linear e cheio de veia, a provar isso uma ficha técnica num dos livros: ideia e título, 3 segundos; desenho dos quadrados, 6 minutos; argumento, desenho e texto a lápis, 12 horas e 38 minutos; passar quadrados a tinta, 14 minutos; passar textos a tinta, 4 horas e 56 minutos; passar desenho a tinta, 3 horas e 29 minutos. Pragmático. Podem não acreditar, mas basta folhear para perceber que o mais provável é que ele não está a mentir. Alguns diriam que o resultado é vanguardista, outros que se trata apenas de desenho primário, por mim nem uma coisa nem outra, o que eu vejo aqui é um desenhador em estado bruto, eficaz e sem complexos ou excessos, capaz de contar uma ou várias histórias até ao fim, sem perder o fio condutor ou deixar de se fazer entender. Essencial.
Extra crítica: Agora que Álvarez Rabo e Mauro Entrialgo esqueceram o abraço de amizade que deram em Barcelona e que as coisas se dividem entre Raboistas e Entrialguistas, tudo por causa do ataque visceral que Entrialgo fez a Rabo no último número da Tmeo, espero que o contra-ataque de Rabo supere (!) aquilo que há de pornográfico e de sórdido que tem nestes livros e nas páginas publicadas até agora na El Víbora.
A Las Mujeres No Les Gusta Follar e Anal-Fabetos
Álvarez Rabo
Colección Tmeo – 58 pp, PB
Texto publicado na revista Quadrado, Volume 3, Nº3, Maio de 2001.