Autores [em 2001]

Foram poucos os novos. Os outros continuam a publicar com alguma regularidade. Alguns tentam a vertente comercial, mas há quem prefira o manifesto artístico. As bolsas continuam aí, para podermos largar tudo e trabalhar sem preocupações. Não haviam editoras, mas agora já podemos dizer que o nosso livro ficava bem editado nesta ou naquela.

Uma felicidade, não fosse o facto de nenhuma delas ter sido capaz de criar uma imagem sólida e atraente junto dos leitores, fossem eles adolescentes borbulhosos ou bancários desprevenidos. Precisam aprender a vender-se a elas próprias, alinhar nessa ideia sedutora, mas perigosa, de que foram as marcas que fizeram os grandes movimentos sociais do final do séc. XX, e que vão fazer os deste em que vivemos. A verdade é que não há revistas para trabalharem com as editoras, o que é uma chatice, mas a Quadrado saí duas vezes por ano cheia de autores exemplares e quem escreve nos jornais arranjou mais espaço dentro da página para os nossos livros. Os Salões fazem o mesmo dentro das fábricas, escolas, cordoarias e mercados, dando-nos mais espaço para retrospectivas, novidades e estreias. O IADE atirou a lança da pós-graduação para aquilo que todos acreditavam ser terra de ninguém, e acertou em 30 pessoas. A Bedeteca de Lisboa trabalha muito para nos manter a todos vivos, juntos aprendemos que o mais importante é preservar a banda desenhada, continuando a alimentá-la com boas histórias e assumindo responsabilidades. Está visto, temos quase tudo, mas falta a popularidade. Não no sentido de sermos todos populares é claro, mas da banda desenhada que fazemos pertencer outra vez à cultura popular portuguesa, o que não acontece desde que os nossos livros foram atirados para as livrarias. É como se não houvesse a banca de jornais, o quiosque ou a tabacaria da esquina, lugares onde vai toda a gente, principalmente aquela que está-se nas tintas para o que foi dito aqui. Gente que precisa de histórias, e não as tem à mão.

Texto publicado na Contador-Mor , Newsletter da Bedeteca de Lisboa, Nº15, Dezembro de 2001.