Licenciado em História pela Universidade de Varsóvia, Ryszard Kapuscinski [1932, Pinsk] começa a sua carreira como jornalista num jornal dessa cidade, o Sztandar Mlodych, em 1955. É enviado como correspondente da Agência Polaca de Notícias para a Ásia nesse mesmo ano, depois de assinar um série de reportagens irónicas sobre a reconstrução da Polónia que desagradam o poder local.
Segue para África em 1957, logo à chegada fica fascinado com a luz, mas aquilo que lhe chama a atenção é o cheiro das especiarias, o mesmo da loja de “produtos coloniais e outros” do Sr. Kanzmanne que havia na sua cidade natal, mas com uma diferença, aqui os cheiros têm peso e textura pegajosa. Quer conhecer melhor África, mas vai fazer isso da pior forma possível, porque na década de 60 vários países africanos reclamam independência e entram em guerra. Kapuscinski viaja sem parar, consegue cobrir tudo o que se está a passar e as suas reportagens são publicadas em vários jornais estrangeiros. É através delas que alcança reconhecimento e admiração junto de colegas e leitores de todo o mundo. Segue de imediato para o Médio Oriente e América Latina, onde acompanha outras tantas revoluções, golpes de estado e, claro, guerras. Apanhou doenças, foi espancado, torturado e afastado, mas mesmo assim voltou sempre a África, um continente que classifica antes de tudo como um “conceito geográfico” e que serve de mote para a maioria dos livros que escreveu. Começou a sua carreira literária de forma discreta em 1962, com a publicação de The Bush, Polish Style, atingindo a aclamação internacional em 1978 com The Emperor, um romance histórico sobre o declínio do ditador etíope Haile Selassie. Possuidor de uma técnica narrativa apurada, capaz de combinar o quotidiano com reflexões filosóficas ou históricas bastante introspectivas, sem nunca deixar de ser acessível e por vezes divertido. Conhece a vivência africana como poucos e Ébano, Febre Africana [pela Campo das Letras] é um bom exemplo disso, nele evita “rotas oficiais, palácios, personalidades ilustres e grande política”, lutando contra a indiferença e ignorância voluntárias que nós europeus temos em relação a África.
Texto publicado na Revista, Nº1553, Agosto de 2002, do semanário Expresso.