Ilustração: Poster Review

Paulo Patrício - Cândido

14 cartazes, 14 ilustrações
Poster Review é uma exposição de 14 cartazes imaginários para 14 curtas portuguesas. As propostas partem dos pontos de vista dos 14 ilustradores, que apresentam uma imagem construída a partir da sinopse de uma das curtas-metragens a concurso. No convite aos autores, não existem referências visuais, breefing ou encomenda do realizador, apenas uma sinopse descritiva do filme, como ponto de partida para o imaginário visual de cada autor. As propostas são impressas em formato 50×70 e expostas na galeria Poster Review, ao lado do Auditório de Vila do Conde.

Feita a apresentação, fica apenas por dizer que a exposição está inserida na 16.ª edição do festival internacional de cinema Curtas de Vila do Conde.

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Ilustração: Memorabilia

Paulo Patrício: Anos 80, Guia Abrangente Para Coleccionadores

As relíquias (do latim reliquiae, “restos”), são os despojos materiais deixados por um santo ou uma personagem sagrada ao abandonar o mundo terreno; podem ser partes do seu corpo, objectos pessoais, ou objectos que, segundo os crentes, ele santificou pelo seu contacto. São preservados para efeitos de veneração no âmbito de uma religião, encontrando-se normalmente associados a uma lenda ou história religiosa. […]

Maria José Goulão

É este o mote para a exposição Memorabilia, colectiva de ilustração na qual participo com este trabalho (que mede 70×100 cm no original) sobre cultura popular urbana e a década de 80, daí o título Adolescência – Guia Abrangente Para Coleccionadores.

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Fumetto: Chalet com Cerveja

chaletcervejas

01.
A exposição de François Chalet [na imagem, à direita, nos anos 80] é das mais fulgurantes em termos de quantidade e variedade de material exposto: impressões a jacto de tinta, fotocópias, páginas de revista, acetatos, animações flash, montagens em papel, cartazes, brochuras, postais, autocolantes e um longo etc. Limitando-se quase exclusivamente a formas simples para construir a figura humana, não é de admirar que a grande força das ilustrações de François Chalet esteja toda concentrada nas expressões faciais e em soluções muito simples que criam a ilusão de movimento. Muitos dos trabalhos expostos resultam da combinação entre o design e a ilustração, mas tanto num caso como no outro tudo é limpo, inteligente e cheio de graça.

02.
Não entendo como é que um suíço, ainda que a viver em Paris, consegue ser tão sardónico e descontraído ao mesmo tempo.

03.
Club ABC Mixx, 2 da manhã. O François Chalet é o VJ de serviço, mas o DJ residente parece não querer acertar o ritmo da música com o das imagens. O DJ muda, agora é uma DJ, a música melhora e eu tento evitar apanhar com os pés de um suíço gigantesco que desata aos pulos de histeria mal houve Chemical Brothers. Alguém diz qualquer coisa ao microfone, peço tradução a uma alemã que está ao meu lado, ela diz-me que “… há uma carteira junto à pista de dança, estão a pedir ao dono que a vá buscar!”. Meu Deus, penso: será que aqui até os donos e empregados das discotecas são honestos?!

04.
São quase 4 da manhã, acabou a música e a discoteca vai fechar. Meu Deus, penso: será que aqui até os donos e empregados das discotecas se deitam cedo?!

05.
Estamos a horas do fecho do Fumetto, não há quase ninguém à nossa volta. Eu e o François aproveitamos para beber uma cerveja, falamos em francês sobre a maneira como os suíços se vestem e sobre o festival. Mais uma cerveja, eu continuo a falar francês, mas o François muda para inglês, falamos de fotografia e Paris. Outra cerveja, eu mudo para inglês, o François fica indeciso, mas acaba por optar pelo espanhol. Mais outra cerveja, falamos os dois em espanhol sobre Argentina e mulheres. Outra logo de seguida, ele fala alemão e eu misturo francês com espanhol, a conversa é sobre desenho assistido por computador e linhas curvas. Levantamo-nos e vamos buscar mais duas cervejas, as últimas, mesmo para acabar. Estamos ansiosos para desmontar as nossas exposições, boa desculpa para irmos buscar outras duas cervejas. Depois, depois só dizemos palavrões. Sem parar.

Fumetto: Mila com Ilegalidade

milailegal

01.
Acabei de passar por um café onde dois marroquinos tentavam roubar uma carteira que estava no casaco do tipo sentado na mesa ao lado. Olhei para eles, eles olharam para mim e desistiram. Avancei uns metros e fiz sinal a mulher do dono do casaco, ela não percebeu, mas os marroquinos viram que eu estava a fazer sinais, eu fiquei nervoso, eles também, eu comecei outra vez a andar, eles saíram do café, eu virei a esquina a correr, eles a esquina oposta, eu entrei a correr no hotel, eles desapareceram.

02.
Diálogo solto entre autores portugueses numa discoteca suíça:
– Oh, a Milla foi-se embora!
– Vês, é assim que os brasileiro arranjam refrões para letras de músicas…

03.
Quinze minutos a andar pelo meio dos subúrbios de Luzern, vamos até um bar ilegal e estamos orgulhosos disso. Mal entramos, alguém vai ao balcão e pede uma cerveja, resposta imediata, “Não temos cerveja…, nova tentativa, E vodka laranja?!, resposta azeda, Não temos gelo…“.

04.
Ficamos aborrecidos por não poder beber, mas apesar da falta de gelo e cerveja, sempre cometemos uma ilegalidade na Suíça, o que não é nada mau.

Fumetto: Gary Panter com Debbie Reynolds

debbiepanter

01.
É o pior de Jack Kirby e o melhor de Jean Dubuffet numa mesma pessoa. Daí que consiga perceber que fique a impressão de irregularidade para aqueles que não conhecem bem o percurso de Gary Panter desde meados dos anos 70 ou que só tenham conhecimento de alguns dos aspectos mais recentes de uma produção que é múltipla e descoordenada por definição. Uma característica que foi anulada na exposição que o Fumetto lhe dedica, através duma selecção demasiado coerente e toda em volta da série Jimbo. Eu não gostava que fosse assim, porque o Gary Panter tem coisas muito mais interessantes fora da banda desenhada.

02.
Quase todos me perguntam o que achei da exposição do Gary Panter, respondo-lhes que assim-assim, eles argumentam que o homem é punk, e eu limito-me a considerar ninguém é punk acima dos 50, muito menos quando têm barriga e usam uma mosca grisalha no queixo, como é o caso.

03.
Quando alguém pede um desenho ao Gary Panter, este faz questão de gritar, “Queres que te desenhe uma cobra muita maluca?!”, ou “Queres que eu te faça um caubói muito doido… queres?!”, ou ainda “Vou-te desenhar um cão muita maluco!” Os desenhos dele são tão riscados e tremidos que às tantas estes “muita maluca” ou “muito doido” parecem ser um pedido de desculpas, se são não convencem, porque há um miúdo que recusa um extraterrestre “muita doido” pela terceira vez. O Gary tenta chamar a mãe dele à razão, “Se ele não gosta de extraterrestres, eu posso fazer… um rapper muita doido!!!”, a mãe do miúdo diz qualquer coisa em alemão, o tom é ríspido, o miúdo contrariado pega nos extraterrestres, agradece e afasta-se puxado pela mãe, o Gary atrapalhado ainda tenta dar a volta por cima, “E lutadores mexicanos?!? Ele não gosta de lutadores mexicanos?!? É que eu posso fazer lutador mexicano muita maluco!“.

04.
O Gary quer saber como é que eu sou capaz de fazer coisas tão rápidas a pincel, e eu pergunto-lhe como é que ele não parte o aparo sempre que faz uma coisa “muito doida”, ele ri-se e aponta para uma caixa cheia de aparos prontos a usar em caso de acidente. Junto à caixa dos aparos há um lápis ilustrado a toda a volta com caras, digo-lhe que tenho dois iguais aquele em casa, comprei-os em 90 ou 92, mas estão novos, porque gosto tanto deles que não tenho coragem para os usar. Fica muito admirado e diz-me que foi ele quem fez a ilustração para os lápis. Mais: explica-me que foi um amigo em Nova Iorque que lhe arranjou o trabalho. Confesso-lhe que comprei os meus no Feira Nova de Braga, pergunta-me se o Feira Nova é uma papelaria, como não quero ferir de morte o orgulho do homem, respondo que sim meio envergonhado. Ele insiste, “Mas porque é que não os usas?!”, e eu repito, “Epá, Gary, porque são tão porreiros que não tenho coragem de os estragar!“, ele acaba por oferecer-me o lápis que tem, “Toma, podes usar este, porque já tá assim…” eu agradeço, ele ri-se, pega no aparo e assina na ponta do lápis. Fico a pensar se coloco o lápis ao lado do boneco que dança bhangra, e que é uma réplica em miniatura do próprio Balwinder Safri!, ou se ao lado da caixa da MGM com os melhores momentos da “Serenata à Chuva” em 8 mm, onde também tenho guardado um guardanapo de papel usado pela Debbie Reynolds.

05.
Vim até meio do caminho para o hotel a olhar para o lápis que o Gary Panter me deu e a pensar que era uma pena o guardanapo da Debbie Reynolds não estar assinado, o que é compreensível, porque eu aproveitei o facto de ela estar de costas para o roubar. Entre os prédios da rua, fui olhando para as montanhas cobertas de neve, depois para as flores dos canteiros e acabei por parar em frente a uma casa fabulosa, acreditei que estava num musical e que daqui a nada a Debbie Reynolds abria a porta, saltava para o passeio e desatava a cantar,

Summer, winter, autumn, and spring
Were there more than 24 hours a day
They’d be spent in sweet content dreamin’ away
Skies are grey! Skies are blue!
Morning, noon, and night-time, too
All I do the whole day through is dream of you!

Cheguei a saltitar de felicidade ao hotel.

Fumetto: Junges Comicschaffen Aus Portugal

luzern

Abre portas hoje, 5 de Abril, mais uma edição do Fumetto, festival de bd de Lucerna, Suíça, que conta com uma colectiva de jovens autores portugueses, que dá pelo nome de Junges Comicschaffen Aus Portugal, comissariada por mim, pela Sabine Witkowski e Denise Schuppisser.

A colectiva contará com originais de Filipe Abranches, João Fazenda, Pedro Brito, Pedro Nora, Isabel Carvalho, e claro, meus, e terá lugar no Festsaal Maskenliebhaber, um antigo salão de festas da cidade.

De resto, todas as outras exposições, das quais destaco as de Dupuy e Berberian, François Chalet e Gary Panter, estão espalhadas por vários espaços de Lucerna.

Ficam aqui as informações úteis para quem conseguir lá dar um salto:

Junges Comicschaffen Aus Portugal
Fumetto Comix-Festival

5 a 13 de Abril, 2003
Festsaal Maskenliebhaber*
Süesswinkel, 7
Lucerna
Suíça

*Aberto entre as 10 e as 22 horas, excepto no último dia do festival, em que encerra às 20 horas.