Viagens de Bolso

bonsai

Literatura Bonsai, que entretanto mudei de título para Viagens de Bolso, é uma série de micro-histórias de viagem [cada uma delas não ultrapassa as 100 palavras] ilustrada por mim, publicada no suplemento de viagens do jornal suíço alemão Die Wochenzeitung. A tradução é da minha amiga Katja Alves, e fica aqui um agradecimento a Esther Banz, editora.

Clique aqui [atenção: demora a carregar] para ver um recorte do Die Woz, ainda que o melhor será ler primeiro os originais, em português. Ficam aqui algumas, com tempo colocarei outras.

Bonsai Literature, title that meanwhile I have change to Pocket Travel, is a series of micro-travelling stories that only have 100 words each, published in the traveling supplement of the swiss german newspaper Die Wochenzeitung. They are translated by my friend Katja Alves – and I also would like to say thanks to Esther Banz, editor. Click here to see a newspaper clip of Die Woz. Meanwhile, I will manage to translate them into english and post them in here.

Viagens de Bolso: Call Center Emocional

Anjushri tinha um ar cansado, o que era natural, vivia em Mira Road, subúrbios de Bombaim, e trabalhava como telefonista num centro de atendimento de uma multinacional americana. A única alegria que tinha no trabalho era a de poder usar o nome Marilyn Monroe e passar horas a fio ao lado de Kamraj, um rapaz a quem os clientes tratam por JFK. Um dia, entre chamadas, teve uma oportunidade para dizer que o amava, mas como estava com um problema de voz, o JFK não a ouviu. Ficou tão revoltada com aquilo, que pediu para mudar de nome e lugar. Agora chama-se Mónica e está sentada ao lado do Bill.

Viagens de Bolso: Telepatia Pura

Conheci-o em Sófia, na Bulgária, chamava-se Stanimir e tinha a mania que era telepata. Contou-me que foi uma das 51 pessoas escolhidas para participar na experiência de telepatia entre a Terra e a nave Apollo 14 em 1971. Eufórico, confessou-me, que conseguiu adivinhar 26 das 200 frases que o astronauta Edgar D. Mitchell escreveu a bordo, perguntei-lhe se sabia o que é que eu estava a pensar naquele momento. Ficou estático durante 1 minuto, em estado de concentração pura, depois começou a rir-se sozinho e disse-me que não percebia patavina de português.

Viagens de Bolso: Diário Público

Café Haffa, arrabaldes de Tanger, olhos nos olhos pedi-lhe o que me tinha roubado, e acrescentei, que não queria confusão, só aquilo que me pertencia. O dinheiro gastei-o todo nisto!, explicou-me olhando para uma pedra de haxixe que tirou do bolso. Retorqui que não queria saber, que só estava ali pelo meu caderno de viagens, ponto final. O tipo apontou para o wc, Está ali!, depois alisou o bigodinho manhoso e ficou a olhar para mim de braços cruzados. Saí de lá como entrei, sem o meu caderno, mas com uma certeza, naquele dia no Haffa ninguém se queixaria de falta de papel higiénico.

Viagens de Bolso: Senti-me Grego

A subida é violenta, leve muita água!, não liguei ao aviso, é claro que quando cheguei lá em cima, à Acrópole, estava ensopado em suor e quase a desmaiar. Pedi com licença e sentei-me no meio de um grupo de americanas de meia-idade. Uma delas, Laurie, numa voz mais do que estridente, perguntou-me se precisava de ajuda. Olhei para o chapéu dela, na frente tinha uma ventoinha alimentada por um minúsculo painel solar e no topo um regador em miniatura, pedi-o emprestado. Senti-me ridículo com aquilo na cabeça, mas passei a acreditar no turismo sustentado. Hallelujah!, gritou a Laurie.

EuroComix: Pontapé de Saída

eurocomix
Nuno Saraiva e Paulo Patrício © 2004-2006

A convite do Die Wochenzeitung, semanário suíço de referência, eu e o Nuno Saraiva vamos publicar até meados de Julho crónicas sobre o Euro 2004. Os títulos e o temas vão girar sempre à volta da palavra febre, dos estádios, da festa, da bandeira. Enfim, variantes desta febre futebolística nos vai tocando a todos.

Pois, mas como não percebo rigorosamente nada sobre futebol, as crónicas andarão à volta do que vai acontecendo fora das quatro linhas, esta primeira será sobre a febre dos estádios, a próxima, sobre um inglês que chegou ao Euro em passo de corrida e sobre adeptos hiper-heterossexuais. É bem, é bem.