Viagens de Bolso: Call Center Emocional

Anjushri tinha um ar cansado, o que era natural, vivia em Mira Road, subúrbios de Bombaim, e trabalhava como telefonista num centro de atendimento de uma multinacional americana. A única alegria que tinha no trabalho era a de poder usar o nome Marilyn Monroe e passar horas a fio ao lado de Kamraj, um rapaz a quem os clientes tratam por JFK. Um dia, entre chamadas, teve uma oportunidade para dizer que o amava, mas como estava com um problema de voz, o JFK não a ouviu. Ficou tão revoltada com aquilo, que pediu para mudar de nome e lugar. Agora chama-se Mónica e está sentada ao lado do Bill.

SI: Sputnik

Ensaio meu na Satélite Internacional [SI] sobre argumento, longo e com o belo título de A Industrialização de Uma Narrativa Popular. Este número, Especial Sputnik, conta também com as participações de Mário Moura, Domingos Isabelinho, Pedro Vieira de Moura, Nuno Franco, entre outros.

Fica aqui o contacto da SI: satelite_internacional [@] hotmail.com

Wrote an article to Satélite Internacional [SI] about scriptwriting, intituled The Industrialization of a Popular Narrative. In this issue there are also articles by Mário Moura, Domingos Isabelinho, Pedro Vieira de Moura, Nuno Franco, among other. SI can be reached using this e-mail: satelite_internacional [@] hotmail.com

Debate em Beja

A convite da Bedeteca de Beja, que abriu portas no passado dia 9 de Abril [inaugurando também o I Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja] vou participar hoje, aí pelas 15 horas, no debate Festivais e Salões de Banda Desenhada em Portugal, em representação do SIBDP [Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto]. Espero que corra tudo bem, para a nova Bedeteca e para mim, que nestas coisas de debates sobre BD, nunca se sabe o que vai acontecer.

Debate: Festivais e Salões de Banda Desenhada em Portugal
Bedeteca de Beja
Casa da Cultura de Beja
23 de Abril de 2005, Sábado, 15 horas

OuBaPo: Oupus 4

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Estão todos convidados pelo colectivo OuBaPo [acrónimo para Ouvroir de Bande-Dessinée Potentielle] e pela editora L’Association para a exposição e lançamento da colectâneaOUPUS 4, com trabalhos de, entre outros, Marjane Satrapi, Lewis Trondheim, David B, Jean-Claude Denis, Étienne Lécroart, Wazem, Elke Steiner, Christophe Badoux, Alex Baladi e, claro, meus.

A inauguração é no dia 18 de Janeiro, aí pelas 18 Horas, na L’Arbre À Lettres, que fica na rua Faubourg-Saint-Antoine, 62 [Rive Gauche; é bem, é bem] em Paris.

Adeus, e até ao meu regresso.

The OuBaPo group and l’Association will have a exhibition on OUPUS 4, with works from, among others, Marjane Satrapi, Lewis Trondheim, David B, Jean-Claude Denis, Étienne Lécroart, Wazem, Elke Steiner, Christophe Badoux, Alex Baladi and mine, of course. The exhibition will be held on L’Arbre À Lettres, St. Faubourg-Saint-Antoine, 62, Paris, and the opening will be on 18th of January. You are all invited.

Escrita Fina: Ponto Final

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Nuno Saraiva e Paulo Patrício © 2004-2006

Foram 48 as histórias de bd publicadas durante todo o ano passado na Única do Expresso, agora é o ponto final na Escrita Fina, série feita em parceria com Nuno Saraiva que (espero) algum dia seja recolhida e publicada em livro.

48 stories of 2 pages done, now it’s the end of Escrita Fina, a weekly series published in Única during last year, magazine of the newspaper Expresso. Some day it will be published in a book.

Autores [em 2003]

Durante uma entrevista, e respondendo a uma pergunta de rotina, James Joyce disse que para se ser escritor é preciso aguentar com tudo. Mesmo a fechar este ano passei a acreditar nisso, quando um crítico me disse que só existiam dois, vá lá, no máximo, três autores de banda desenhada em Portugal.
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Coimbra e Balbec

coimbrabalbec

As cidades com um património arquitectónico decadente sempre ficaram bem dentro de um quadrado, Coimbra não é uma excepção. Isto a propósito da exposição Coimbra na BD que abriu hoje, dia 17 de Junho, no Museu de Física da Universidade de Coimbra. Comissariada por João Miguel Lameiras, João Ramalho Santos e João Paiva Boléo, a exposição divide-se em dois blocos, a saber: 1. Coimbra na bd nacional e internacional, tendo como objectivo de avaliar a representação da cidade na bd ao longo do tempo 2. Originais do livro O Segredo de Coimbra de Étienne Schréder e espólio do próprio museu colocados lado a lado, tendo esta como objectivo estabelecer relações (e interpretações) entre ambos.

Não fica mal, a propósito desta exposição, citar Gérard Genette: “Paris e Balbec estão ao mesmo nível, mesmo que uma seja real e a outra fictícia, nós somos todos os dias objecto de narrativas, senão mesmo heróis de um romance.”. Além de estar bem articulada uma das ideias centrais da ficção, esta frase também tem a estranha capacidade de fazer qualquer um sentir-se bem. Tudo, sem usar filosofia em segunda mão ou dar lições de optimismo para donas de casa que sofrem de angustia antes da hora do almoço. Aprende Paulo Coelho.

Genette é conhecido pela teorias que formulou sobre o arquitexto e o hipertexto, mas tem ensaios muito interessantes sobre o discurso literário e aspectos, origens e mecanismos da linguagem. Não vende milhões, nem comove multidões, mas é uma boa leitura para os dias mais tristes.

Queremos +

Ficava feliz se houvessem mais editoras assim, pequeninas e cheias de bom gosto, como a +bd do José Rui Fernandes, a quem se associaram outros dois editores, Júlio Moreira e Pedro Cleto. Até agora foram editados “Aqueles Que Te Amam”, “Max e Zoé em O Grande Disparate” e “Alguns Dias Com Um Mentiroso” de Étienne Davodeau, “L123 Seguido de Cevadilha Speed” de Relvas, “Mundo Fantasma” de Daniel Clowes, e este mês saíram As Aventuras de Hergé de Stanislas e Kafka: Desiste! E Outras Histórias de Peter Kuper.

São raras as editoras que têm a capacidade de editar livros com esta qualidade, porque o nosso mercado é ingrato e desconhece a maioria destes autores, e se a isso juntarmos uma produção gráfica cuidada e um bom design de capa, então estamos a falar de profissão de risco. Calculado ou não, só espero é que eles não parem

Fumetto: Chalet com Cerveja

chaletcervejas

01.
A exposição de François Chalet [na imagem, à direita, nos anos 80] é das mais fulgurantes em termos de quantidade e variedade de material exposto: impressões a jacto de tinta, fotocópias, páginas de revista, acetatos, animações flash, montagens em papel, cartazes, brochuras, postais, autocolantes e um longo etc. Limitando-se quase exclusivamente a formas simples para construir a figura humana, não é de admirar que a grande força das ilustrações de François Chalet esteja toda concentrada nas expressões faciais e em soluções muito simples que criam a ilusão de movimento. Muitos dos trabalhos expostos resultam da combinação entre o design e a ilustração, mas tanto num caso como no outro tudo é limpo, inteligente e cheio de graça.

02.
Não entendo como é que um suíço, ainda que a viver em Paris, consegue ser tão sardónico e descontraído ao mesmo tempo.

03.
Club ABC Mixx, 2 da manhã. O François Chalet é o VJ de serviço, mas o DJ residente parece não querer acertar o ritmo da música com o das imagens. O DJ muda, agora é uma DJ, a música melhora e eu tento evitar apanhar com os pés de um suíço gigantesco que desata aos pulos de histeria mal houve Chemical Brothers. Alguém diz qualquer coisa ao microfone, peço tradução a uma alemã que está ao meu lado, ela diz-me que “… há uma carteira junto à pista de dança, estão a pedir ao dono que a vá buscar!”. Meu Deus, penso: será que aqui até os donos e empregados das discotecas são honestos?!

04.
São quase 4 da manhã, acabou a música e a discoteca vai fechar. Meu Deus, penso: será que aqui até os donos e empregados das discotecas se deitam cedo?!

05.
Estamos a horas do fecho do Fumetto, não há quase ninguém à nossa volta. Eu e o François aproveitamos para beber uma cerveja, falamos em francês sobre a maneira como os suíços se vestem e sobre o festival. Mais uma cerveja, eu continuo a falar francês, mas o François muda para inglês, falamos de fotografia e Paris. Outra cerveja, eu mudo para inglês, o François fica indeciso, mas acaba por optar pelo espanhol. Mais outra cerveja, falamos os dois em espanhol sobre Argentina e mulheres. Outra logo de seguida, ele fala alemão e eu misturo francês com espanhol, a conversa é sobre desenho assistido por computador e linhas curvas. Levantamo-nos e vamos buscar mais duas cervejas, as últimas, mesmo para acabar. Estamos ansiosos para desmontar as nossas exposições, boa desculpa para irmos buscar outras duas cervejas. Depois, depois só dizemos palavrões. Sem parar.

Fumetto: Mila com Ilegalidade

milailegal

01.
Acabei de passar por um café onde dois marroquinos tentavam roubar uma carteira que estava no casaco do tipo sentado na mesa ao lado. Olhei para eles, eles olharam para mim e desistiram. Avancei uns metros e fiz sinal a mulher do dono do casaco, ela não percebeu, mas os marroquinos viram que eu estava a fazer sinais, eu fiquei nervoso, eles também, eu comecei outra vez a andar, eles saíram do café, eu virei a esquina a correr, eles a esquina oposta, eu entrei a correr no hotel, eles desapareceram.

02.
Diálogo solto entre autores portugueses numa discoteca suíça:
– Oh, a Milla foi-se embora!
– Vês, é assim que os brasileiro arranjam refrões para letras de músicas…

03.
Quinze minutos a andar pelo meio dos subúrbios de Luzern, vamos até um bar ilegal e estamos orgulhosos disso. Mal entramos, alguém vai ao balcão e pede uma cerveja, resposta imediata, “Não temos cerveja…, nova tentativa, E vodka laranja?!, resposta azeda, Não temos gelo…“.

04.
Ficamos aborrecidos por não poder beber, mas apesar da falta de gelo e cerveja, sempre cometemos uma ilegalidade na Suíça, o que não é nada mau.