A Máquina do Hype #06

Máquina do Hype #06
© The Cobra Snake

Peças Novas

Há algumas semanas que o próximo It’s A Bit Complicated, dos Art Brut, andava por aí [qualquer pesquisa bem feita no Google leva aos MP3s]. Daquilo que li, Direct Hit seria o grande single do álbum, mas depois de ouvir com atenção, Pump Up The Volume foi a única música que me ficou no ouvido e na playlist. Ainda que as sobrancelhas do vocalista, Eddie Argos, despertem a atenção de qualquer um, infelizmente, continua a faltar aos Art Brut uma emulação actualizada do Jarvis Cocker para ganharem algum estatuto. Sim, porque os Art Brut são isso, uns Pulp electrizados.

Peças Soltas

Andei a semana entretido com Get Low Club Action [ouçam-na lá em baixo, no Ruído], remistura que Scattermish fez de Club Action, dos Yo Majesty, com a versão de Herve para Licky de Larry Tee [tanta gente!]. Scattermish classificou-a de “Timid Fuckup Edit”, o que numa tradução selvagem resultaria em qualquer coisa como “Remistura Tímido-Fodida“, bem, de tímida tem pouco, agora de fodida, e bem fodida, tem muito. No blog dele, para além de outras remisturas, também encontram sets completos para download gratuito e legal. Caso para se dizer, fodidos, mal pagos, mas muito agradecidos.

Peças Usadas

Cato Salsa Experience. Duma banda com um nome assim, só se pode esperar: a) grandes coisas, b) o horror. Mas como têm um álbum de 2005 editado em conjunto com os The Thing e com o grande-grande Joe McPhee, fui à confiança. O resultado, uma mistura portentosa de garagem com jazz e sei-bem-lá-mais-o-quê, foi uma boa surpresa. O site deles também vale uma visita. Ah! Quase que me esquecia de mencionar o nome do álbum: Sounds Like Sandwich… e soa mesmo!

Medição e Ensaio de Peças

De bandas suecas, está o mundo cheio: Boat Club, Concretes, Peter Bjorn & John, Envelopes, Strountes. Os Santa Maria são mais um nome a juntar a esta longa lista, e como todos os outros, também fazem música que aborrece. Ainda assim, para quem é dado a revisões Pop, o download gratuito e legal de Dogs, Make Up e Cuckoo pode ser feito aqui. Ainda não percebi bem onde está o fascínio disto, mas enfim, um dia lá chegarei.

Ruído da Máquina

Get Low Club Action [Timid Fuckup Edit]
Scattermish.blogspot.com – 2007
Scattermish

Nota: A minha Máquina do Hype é publicada todas as segundas-feiras.
Os MP3s desta edição são autorizados, expressamente e por escrito, pelo[s] respectivo[s] autores[s] e serão retirados em 24 horas.

A Máquina do Hype #05

A Máquina do Hype #05
© The Cobra Snake

Peças Novas

Mais do que novas, estas peças estão por estrear, falo dos Bitchee Bitchee Ya Ya Ya [BBYYY], uma dupla londrina de DJs que irrompeu, assim do nada, com remisturas portentosas de Cansei de Ser Sexy, Brodinski, Mr. Flash, Bonde do Role e Poney Poney. O som é arranhado, cheio de loops toscos, com muita gritaria pelo meio, tão imperfeito, mas tão irresistível que nem sabia muito bem qual das músicas havia de colocar aqui. Suspeito que estes tipos, ou tipas, ou lá o que são, porque ninguém sabe muito bem quem são os BBYYY, vão rebentar por aí. Confirmem-no ouvindo os temas Tu Connais Le Chanson, Fuck Friend e Office Boy, depois podem dar um salto ao MySpace deles para fazerem download gratuito e legal de tudo o que lá está!

Peças Soltas

Dão pelo nome de The Glamour, ninguém diria que são de Milwaukee, Winsconsin, têm um toque muito de finais de 90, mas dentro dos limites do bom senso e gosto. Hesitei entre Kidz Night e Get Into It, mas esta última dá tanto, mas tanto, gozo que acabou por ser escolhida. Testem o que acabei de escrever: ponham o som das colunas no máximo, peguem numa Bic, cliquem em play e aos primeiros sons, saltem para cima da cadeira, rodopiem sem parar com a Bic em riste, até vazarem a vista daquele vosso colega-do-lado-que-é-um-chato. Dá cá um gozo vê-lo gritar, não dá? Se estão por casa, e não podem entregar-se a estas coisas, telefonem já a meia dúzia de amigos a marcar uma festa para logo à noite!

Peças Usadas

Jeanette Dimech. Filha de um belga e de uma espanhola, estrela de um êxito só, Porque Te Vas. Primeiro, achei que a música podia pertencer à série Verão Azul, confirmei que não, que afinal é do filme Cria Corvos de Carlos Saura, mas como este é de 74, e eu só o vi muito mais tarde, lá acabei por ficar meio perdido durante semanas, sem saber donde é que conhecia a música. Depois, lembrei-me de uma festa de anos de um amigo meu, em que me partiram a cana do nariz, tinha eu aí uns 7 ou 8 anos, e que enquanto a minha mãe tentava estancar o sangue, eu, numa de superar as dores, fixei-me na música que estava a dar: Porque Te Vas. Ou melhor, fixei-me no chim-chim, feito pela bateria, que entra logo aos 20 e poucos segundos. Dentro da minha cabeça, aquele chim-chim era semelhante ao chim-chim que a cana do meu nariz fez quando partiu, e isso, vá-se lá perceber como, ajudou na auto-hipnose contra a dor. Talvez por isso, outras das preferidas da minha playlist seja Chi Ching da Lady Sovereign. Voltando um nadinha atrás, a voz dela também ajudou, fazia-me lembrar a de um desenho animado, e quando temos 7 ou 8 anos e ouvimos vozes assim, o mundo é um lugar seguro, mesmo quando o sangue escorre e a festa está estragada. Tudo isto saltou cá para fora, quando estava a ver os vídeos da Jeanette no YouTube.com, onde há desde este gravado num bar apinhado de clientela irreal [reparem nos olhares do tipo que está sentado aos pés dela!], e em que se ouve bem o tal chim-chim, até esta ofuscante aparição ao vivo, passando por este outro com um cameraman atiradiço nos movimentos pélvicos. O vídeo da versão cantada pela Shana Tesh também tem graça, não tanto pela música, mas pelo diálogo no táxi, típico de novela ou de uma qualquer pornochachada latino-americana. Detalhe que já não faz parte da minha memória.

Medição e Ensaio de Peças

Nota máxima para Italiano Lento do DJ Sandrinho, retirado de Baile Funk Masters #1, salpicada de gemidos, mas a provar que com batidas simples se fazem faixas imaculadas, como é o caso. O DJ Sandrinho, fica aqui o convite se estiverem por perto, passará pelo Triptyque em Paris neste próximo 24 de Maio, seguindo para o Favela Chic de Londres a 27, e volta a 30 ao Favela de Paris. Tendo em conta os destinos lowcost disponíveis, são estas as sugestões, mas para saberem todas as datas e locais por onde vai passar, consultem o programa no My Space dele. Avançando para o “dance punk”, máxima para Hummer dos britânicos Foals, que depois de entrar no ouvido, cria balanço e faz abanar a cabeça.

Ruído da Máquina

Office Boy
Myspace.com/bbyayaya – 2007
Bitchee Bitchee Ya Ya Ya

Italiano Lento
Baile Funk Masters #1
Man Recordings – 2007
DJ Sandrinho

Get Into It
Let’s Party!
Promo – 2007
The Glamour

Nota: A minha Máquina do Hype é publicada todas as segundas-feiras.
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A Máquina do Hype #04

Máquina do Hype 04
© The Cobra Snake

Peças Novas

Vamos começar por uma injustiça, estávamos a deixar passar um grande-grande single de uma banda assim-assim: Fluorescent Adolescent dos Arctic Monkeys. Enche logo os ouvidos, mas o melhor é a letra [façam o favor de a ler aqui] , não importa que seja sobre raparigas, porque a verdade é que [quase] todos fomos adolescentes fluorescentes. Mas claro, um dia faz-nos falta qualquer coisa na vida, começam as crises e somos um buraco negro. Consta por aí que com músicas como esta, é possível reacender, voltar à fluorescência. Queremos acreditar nisso.

Peças Soltas

Na órbita folk, tropeçamos em Mona Lisa de Blair [nome infeliz nos dias que correm, mas enfim…], retirado do EP Pluto, sobre as mudanças que aconteceram, pós Katrina, em Nova Orleães e o facto de Plutão [“pluto” em inglês] ter passado de planeta para planeta anão. Bela associação. Ouçam o tema, alinhado com Half Moon, Wolfboy e Blues Song, todos para download gratuito e legal no MySpace.

Peças Usadas

A memória tem coisas estranhas: um vídeo dos Blondie fez-nos lembrar que Atomic pertencia a uma banda sonora, mas estava difícil de adivinhar qual . Depois de muito puxar pela cabeça, lá chegamos à banda sonora do filme Trainspotting, mas o Atomic que lá está, não é o dos Blondie, mas sim dos Sleeper. Este exercício de má memória exemplifica que não somos fãs dos Blondie, mas confirma que o original entusiasma mais do que a versão. Fica aqui o link para o vídeo, onde Debbie Harry está tão sexy que até um saco do lixo lhe fica bem [aliás, qualquer coisa lhe ficava bem por aquela altura], e por favor, estejam atentos ao senhor que aparece no vídeo aí pelos 2:38 min com um capacete na cabeça. Só por isso, está ganho o dia. Se querem perseguir outras versões dos Blondie, tentem One Way Or Another pelos Cansei de Ser Sexy, retirado do EP A Onda Mortal/Uma Tarde Com P, onde o punk da coisa está bem preservado.

Medição e Ensaio de Peças

Nota máxima para Party Time do recente We Know You Know das Lesbians on Ecstasy [ou Lezzies On X], banda de gajas que curtem gajas. No site delas não encontram este tema, mas há lá outros dois para download gratuito e legal que valem bem a pena: Tell Me Does She Love The Bass [The Jealous Mix] e Konstantly Kraving Kosa [Sean Kosa Mix]. A festa está garantida, se alinharem esta última com a remistura de Felix Cartal para L.O.V.E. de Ashlee Simpson. Caso entrem numa de dúvida sobre a vossa identidade sexual, ouçam imediatamente a seguir Where Is My Love de Cat Power.

Ruído da Máquina

Party Time
We Know You Know
Alien8 Recordings – 2007
Lesbians on Ecstasy

L.O.V.E. [Ashlee Simpson – Felix Cartal Remix]
We Know You Know
Myspace.com/felixcartal – 2007
Felix Cartal

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A Máquina do Hype #03

Hype 03
© The Cobra Snake

Peças Novas

Miss Odd Kidd poderá, com facilidade, confundir-se com Lady Sovereign. Verdade seja dita, todas as rappers inglesas têm o seu quê de Vicky Pollard, “no but yeah but yeah but yeah no but yeah…”, e por isso mesmo, são altamente confundíveis. Deixando de lado este tipo de comentários, que noutros lugares seriam motivo para linchamento público, esclarecemos que Weed Wine and Wankers de Miss Odd Kidd tem animado as nossas noites, remisturas de Sluttt e Drop The Lime incluídas [sem discutir qual das duas a melhor]. A única falha que podemos apontar a Miss Odd é a falta de rudeza, nota-se pelas letras que tem ainda muito “no but yeah but yeah but yeah no but yeah…” para percorrer. E para que não fique qualquer mal entendido, Lady Sov está para nós, como Nossa Senhora de Fátima está para os católicos: lá nos altos. Neste caso, dos subúrbios.

Peças Soltas

Moodymann. Nem sabemos bem por onde começar: se pela valente [re] mistura de funk, soul, jazz e house no recente 12″ Technology Stole my Vinyle, ou se pela vontade de abanar cabeça e corpo que uma coisa destas nos dá. O que sabemos, é que se houve uma noite um DJ que nos salvou a vida, houve um dia em que a tecnologia roubou o vinil. E ainda bem.

Peças Usadas

Pouco se salva em Supply and Demand, aborrecido exercício eu + eu = eu de Amos Lee, mas claro, há uma excepção e dá pelo título de Sweet Pea. A voz, suavíssima; a melodia, country pop dizem; e o chavão “you’re the only reason I keep coming home” usado na letra, são bons motivos para seguir estrada fora. Façam a experiência: liguem o iPod ao rádio do carro, coloquem em loop Sweet Pea e arranquem sem itinerário definido. Quando cair a noite e estiverem sei lá bem aonde, assim meio perdidos, lembrem-se que o único motivo para voltar a casa é o amor da vossa vida. Isto se souberem o caminho de volta, e como é óbvio, tiverem alguém à vossa espera. Caso contrário, se não são dados a experiências tontas, ouçam Hot Wax de Michael Andrew enquanto a fila de trânsito se resolve.

Medição e Ensaio de Peças

Nota máxima para Weird Science, dos Does it Offend You, Yeah?, também para Patrick 122 e Transexual, de Mr. Oizo, homem da “french electro”, e ainda para Pára de Gracinha [Euro Crunk Mix] com MC Leka, retirado de Funk Mundial #3, do duo italiano Crookers. Ligam todas bem, e escusado será dizer, são altamente dançáveis. A negativa vai para Icky Thump dos White Stripes, que fez furor junto dos fãs e de quem se lembrou de dar uma vista de olhos à letra [ou pelo menos a uma parte dela], mas a verdade é só uma: fartos de revisionismo musical estamos nós.

Ruído da Máquina

Pára de Gracinha [Euro Crunk Mix]
Funk Mundial #3
Man Recordings – 2007
Crookers

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A Máquina do Hype #02

Hype 02
© The Cobra Snake

Peças Novas

Os franceses estão a voltar em força, é o que se tem espalhado por aí. Por aqui, é certo que relíquias como Plastic Bertrand [ainda que belga], Mathématiques Modernes, Elli & Jacno até aos mais recentes Stereo Total [ainda que meio alemães], Air, Daft Punk e Nouvelle Vague estão entre os favoritos de sempre. O detalhe linguístico, se cantam ou não na língua materna, se a misturam com outras ou não, é de todo irrelevante. Talvez por isso, tanto são boas as surpresas exclusivamente cantadas em francês, Prototypes [atenção: EP à borla, aqui!], como as bilingues, Plasticines, e aquelas que chegam num inglês bem disfarçado, como Martin Solveig. Depois disto, só faltava aqui quem cantasse em “broken english”, e aí estão os SoKo, a cantar num inglês medonho, mas tão honesto e singular que mete dó. Verdade: Taken My Heart e I’ll Kill Her são músicas que entram pelo ouvido, não querem sair da cabeça e fazem o coração arrepiar, confirmem-no aqui. Sejamos honestos: antes isto, do que o maudito David Fonseca.

Peças Soltas

John Cooper Clarke. O historial do homem é complicado, brilhou na década de 70 com o punk e nas seguintes apagou-se à conta da heroína. Pode dizer-se, à falta de melhor, que é um poeta de rua [há quem o trate por Bardo de Salford] e cruza spokenword com electrónica, punk e sabemos lá mais o quê. Numa expressão: música não identificada. Nada melhor então, acharam os produtores da série ao ouvirem a música de Clarke, do que Evidently Chickentown para acompanhar a tensão existencial [?] entre Tony e Chris no fecho de Stage 5, um dos últimos episódios dos Sopranos. Por aqui, depois de Evidently Chickentown, retirado de Snap, Crackle & Bop, fomos atrás da compilação Word of Mouth e de lá arrancamos uma pérola, I Don’t Want to Be Nice.

Peças Usadas

Aí por meados da década de 90, Armand Van Helden era um Midas entre Djs e produtores. Enumerar aquilo em que tocou e transformou em ouro, de Fine Young Cannibals a Daft Punk, seria o mesmo que escrever uma página sobre a história das grandes batidas daquela década. Entretanto, o House foi-se e o toque de Van Helden também, mas surpresa!, depois da eficaz mistura de Sexy Back [de Timberlake, claro], ressuscita em Ghettoblaster, último álbum, com Playmate. A batida é muito noventas, a voz é assim-assim, agora que é altamente dançável, é. Pior: deixa ficar a suspeita que o House ainda vai voltar. Mau Maria.

Medição e Ensaio de Peças

Nota máxima para o hip hop africano, recolhido na compilação African Underground: Depths of Dakar da Calabash Music, em particular o som de Sen Kupar. Do hip hop africano para o funk e deste para o kuduru [faz tudo sentido, não faz?!], os Buraka Som Sistema fizeram misturas de Gasolina, dos Bonde do Rolê, e Birdflu Guns Up, da M.I.A. Gostamos mais do primeiro, o outro é um bocadinho um tiro no ouvido. Mas pronto, infelicidades destas acontecem.

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A Máquina do Hype #01

Hype 01
© The Cobra Snake

Peças Novas

É verdade, Feist conseguiu, 1 2 3 4 é o segundo grande single posto a circular do álbum que já aí está há venda, The Reminder, o outro é My Man, My Moon. A diferença é que este 1 2 3 4 dá para tudo: trautear, dançar, bater palminhas e até para pensar que não é com golpes de sorte que se conseguem coisas destas. E há que reparar na engenharia da coisa: até aos 20 e poucos segundos parece que nada vai acontecer, depois a melodia abre e leva-nos com facilidade. O vídeo acompanha a excelência do single, confirmem no Youtube.com. Só de pensar que houve um tempo em que Feist usava o nome de Bitch Lap-Lap e rapava em espanhol com um fantoche feito de meias, até dói.

Peças Soltas

Darondo. O homem andava de Rolls Royce branco, abria concertos para o James Brown e era tido como o próximo Al Green, até que em meados de setenta desapareceu. Foi recuperado em 2005 por Gilles Peterson para a colectânea [Gilles Peterson] Digs America, com o single Didn’t I. Tendo em conta o interesse que despertou, a Ubiquity lançou no ano seguinte Let My People Go. Nela está recolhida, se é que assim se pode dizer, a obra completa de Darondo, que se resume a nove singles. Sim, nove, mas todos grandiosos. Há coisas assim.

Peças Usadas

Não é novidade nenhuma: são três raparigas de Brooklyn, todas teclistas, dão pelo nome de Au Revoir Simone [não a de Beauvoir, mas tanto quanto se sabe, a de um filme de 1985, Pee-Wee’s Big Adventure, de Tim Burton], editaram um álbum, The Bird Of Music, e foram adoptadas como coqueluche por [quase] tudo o que é blog e revista de música. E até David Lynch anda por aí a dizer que são as preferidas dele. O uso abusivo dos sintetizadores e o lado querido das Au Revoir Simone fazem lembrar muito uma coisa de início dos anos 90, Les Mariages Chinois, de Philippe Katerine, reeditado há pouco. Ambos os discos, o das Au Revoir hoje e o de Katerine em retrospectiva, sofrem do mesmo mal: à primeira escuta fascinam, à segunda descobrimos-lhes as fragilidades e à terceira estão gastos. Agora uma pequena teoria: uma busca rápida ao Google e os resultados indicam rapidamente o porquê da súbita euforia à volta das Au Revoir Simone, para além de carinha laroca, há pernoca bem feita. Neste caso, a multiplicar por três.

Medição e Ensaio de Peças

Nota máxima para os nomes que as bandas brasileiras escolhem. Depois dos Cansei de Ser Sexy, há agora os Luísa Mandou Um Beijo. São do Rio, não consta uma Luísa da formação, mas sim uma Flávia, acompanhada de Fernando, PP, PC, Shockbrou, Andrezinho e Luciano. Fazem pop como deve ser, levezinha e fresca, confiram Hoje, o Mar Dançou no Céu. O álbum está todo aqui, o download é gratuito e legal.

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Aqueles Que Me Acompanharam em 2006

Não consegui evitar: estava a olhar para os resultados que a Last.FM vai debitando sobre aquilo que ouço e aproveito um intervalo para escrevinhar sobre alguns singles que me acompanharam ao longo do ano que passou.

Sou, sempre fui, um tipo de singles, não acredito em álbuns, um conceito que nunca consegui aceitar, do qual nunca gostei e que hoje está esgotado. Afinal, o que ficará daqui a uns anos de todas estas bandas que por aí andam? Nada, a não ser singles, claro está.

Sem obedecer a uma ordem, destaco dez, entre tantos outros que gostei e me fartei de ouvir.

reginaspektor

Begin To Hope
Regina Spektor

Exercício crítico que se preze começa por um paradoxo: não é um single, mas um álbum que abre esta lista. Regina Spektor pode até lembrar Feist, erro crasso, porque é de longe muito mais sofisticada na composição e na escrita, coisa que já se adivinhava em Soviet Kitsch e se confirma neste Begin to Hope. Anti-folk, ok, mas sem o toque de R&B, Fidelity, On The Rádio e That Time não seriam os singles que são: cheios, redondos e imaculados.

ferrabylionheart

A Crack In Time
Ferraby Lionheart
Ferraby Lionheart

Sou fã de quem tem um bom nome, só por isso, Ferraby Lionheart mereceu toda a minha atenção. Depois do nome, foram os arranjos singulares, meio pop, meio folk, e depois as letras. Belíssimas. Hesitei entre este tema e Tickets To Crickets, mais óbvio e que me faz chorar como um desalmado. Mas volto a repetir: foi o nome dele que me chamou a atenção.

spektrum

Don’t Be Shy
Fun At The Gymkhana Club
Spektrum

Esta coisa do electrofunk [ou electrohop ou qualquer outra porcaria de etiqueta que alguém se lembre de inventar] é entusiasmante e os Spektrum são do mais competente que há a fazê-lo. Prova disso é este Don’t Be Shy, altamente dançável e a roçar o sexualmente explícito. Depois desta, só mesmo Emergency do Passions é que me fez saltar para cima da cadeira.

bookashade

Hallelujah USA
Movements
Booka Shade

Nunca percebi a utilidade de um subwoofer, mas depois de ouvir Hallelujah USA [que faz reverbar todos os vidros da minha casa], juro que estava capaz de ter um no carro e girar por aí sem parar. Isto se eu tivesse carro e fosse um suburbano dado a essa libertação de espírito que é o tunning.

canseidesersexy

Let’s Make Love And Listen Death From Above
CSS
Cansei de Ser Sexy

O estilo é tudo. Nisso estou com os Cansei de Ser Sexy. E este Let’s Make Love And Listen Death From Above tem precisamente aquilo que faz de qualquer música um grande single: esgota-se ao fim de uma audição, mas enquanto durou, foi tão bom, que só apetece repetir.

babyshambles

The Blinding
The Blinding
Babyshambles

Ouço-o todos os dias pela manhã. Juro que é assim. E este nem é um grande-grande single, apenas um grande single dos Babyshambles. A questão é simples: todo o adolescente que se preza deveria arrancar da parede a foto do Che, ou de qualquer outro revolucionário secular e pingalheiro, e colocar uma do Peter Doherty. Um dia destes, se estiver para aí virado, ainda lhe escrevo uma ode, que o homem merece.

beirut

Elephant Gun
Lon Gisland
Beirut

Tenho quase a certeza que é um banjo que abre esta canção, depois há uma voz trémula, e ainda, um lado operático que me enchem as medidas. É um dos grandessíssimos singles desta colheita, muitos pontos acima do celebrado Postcards From Italy de Gulag Orkestar, coisa para agradar norte-americanos que nunca saíram de casa.

catpower

Could We
The Greatest
Cat Power

Sou fã de bons nomes, já disse, por isso tive uma enorme resistência a Cat Power. O mesmo não aconteceu com a música e voz dela, dela Charlyn Marshall, nome bem menos piroso que Cat Power, que de resto é abreviatura de marca de maquinaria pesada. Enfim, manias à parte, Could We tem um irresistível toque de R&B pelo meio e é de facto poderoso.

gnarlsbarkley

Crazy
St. Elsewhere
Gnarls Barkley

Seria uma injustiça não destacar Crazy, até por razões históricas, foi o primeiro single a chegar ao topo da tabela inglesa via downloads [isto muito antes de sair o disco], depois sou um fã absoluto de Danger Mouse, e para acabar, uma grande música resiste a tudo e a versão acústica da Nelly Furtado é uma prova disso. E já me esquecia: é claro que quem aparece vestido de “droog” em fotos de promoção e edita um álbum com nome de série televisiva de culto, merece toda a consideração.

Outros grandessíssimos singles que ficaram de fora, crueldade!, sobre os quais gostaria de escrever, mas não tenho tempo:

Lloyd, I’m Ready To Be Heartbroken e If Looks Could Kill, Camera Obscura; SexyBack, Justin Timberlake; Plus 81, Deerhoof, Un Gars Fragile, Prototypes; Rivers, Sleeping States; We Used To Vacation, Cold War Kids; Transgressors, Magas; Over And Over, Hot Chip; Kick Push, Lupe Fiasco; Brown Girl, Jurassic 5; 100.000 Thoughts, Tap Tap; Black Dirty, Bumblebeez; A Conta do Samba, Tita Lima; Aka M80 The Wolf, Portugal, The Man; [Far From] Home, Tiga; Drugs in My Body, Thieves Like Us; Fuego, Pitbull; Bouncy Ball, Ladyfuzz; Magic Touch, Kudu; TeleRAD, Gay Against You; This Time, DJ Shadow; True Skool, Coldcut; Sons & Daughters, The Decemberists; Wolf Like Me, TV On The Radio; Yah!, Buraka Som Sistema; Smash Your Head, Girl Talk; Yours To Keep, Teddybears, Fraud In The 80s, Mates Of State; You Are What You Love, Jenny Lewis With The Watson Twins; Artifact, DJ Shadow; I Just Came To Tell You That I’M Going [Je Suis Venu Te Dire Que Je M’En Vais], Jarvis Cocker & Kid Loco, e Love or Hate Me, Lady Sovereign.

3 Pistas

tati3

No início deste mês, Abril, desenhei ao vivo, ou seja, em palco, com o meu amigo Jorge Gonçalves, no concerto 3 Pistas da Antena 3, onde acompanhei 4 bandas, foram elas, Melo D, Mesa, Quinteto Tati e Blind Zero.

O desenho digital ao vivo obedece a esta lei: nada se salva, nada é reproduzível. O que é muito útil, convenhamos, pelo menos no que diz respeito aos momentos que correm menos bem, já que estes não ficam fixados num suporte e são apagados da memória do público pelos bons.

O pouco que sobrou da noite está aqui, Mesa e Quintento Tati, respectivamente. Não. Ao contrário.

mesa

In the beginning of April, I did live drawing, on stage, with my friend Jorge Gonçalves at Antena 3 radio concert 3 Pistas. I drew live with 4 portugese bands [Melo D, Mesa, Quinteto Tati e Blind Zero], here are some screenshots I was able to save.