Iogurte Grego?!

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Tenho a impressão que muitos de nós, e tantos outros europeus, experimentaram o iogurte grego à custa das más notícias sobre o país e campanhas publicitárias constantes, entre outras marcas, da Danone e Nestlé. Abrindo um, logo pela textura, será tudo, menos o legítimo ou sequer uma boa imitação.

O original é denso, muito denso. Enfiando uma colher, poderia levantá-la, abanar com força, que o iogurte continuaria lá. É amargo e ligeiramente salgado de sabor, quanto mais não seja, porque tradicionalmente é de ovelha e não de vaca. Dito de outra maneira: pensem nele mais como um queijo fresco, acabado de bater, do que outra coisa qualquer. Daí que combine muito bem com mel, regado no topo e a gosto, sendo que uma ou duas colheres de boa compota também cumprem o mesmo papel, mas não é muito vulgar. É mel e ponto final. Também é versátil, tanto pode aparecer numa entrada, como o tzatziki, uma pasta de iogurte, pepino e alho regada com azeite; como barrado num pedaço de paximadi (um pão muito seco), com tomate, oregãos e um fio de, claro está, azeite; ou compor uma salada, como a pantzarosaláta1, feita com beterraba envolvida em iogurte, maionese e alho.

Quando disse taça, pequei pelo tamanho, porque os gregos comem iogurte em tações. E com muito gosto. Aliás, num frigorífico de uma casa grega, é mais fácil encontrar um balde de 1 quilo de iogurte do que uma embalagem pequena. As duas marcas mais populares, por lá, são a a Delta e a Fage (diz-se faieh, é um acrónimo, são as primeiras letras dos nomes dos donos, mas também significa “come”), sendo que ambas arrancaram originalmente em Atenas no início do séc. XX. Por cá, encontram-se à venda em algumas mercearias finas e no El Corte Inglés.

De resto, aquilo mais o caracteriza é ter pouco ou nenhum soro (aquele líquido que cobre o topo), quase todo ele escorrido durante a feitura, por isso mesmo, o nome dado pelos gregos a este tipo de γιαούρτι (iogurte) é στραγγιστό (diz-se stranghistó), que significa precisamente “bem escorrido”.

Ou seja, até no nome, o iogurte grego que anda por aí não é bem o iogurte dos gregos.

Malakas!


  1. Efharisto para poli, Caterina! 

Oliver Sacks

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I feel intensely alive, and I want and hope in the time that remains to deepen my friendships, to say farewell to those I love, to write more, to travel if I have the strength, to achieve new levels of understanding and insight.

I feel a sudden clear focus and perspective. There is no time for anything inessential. I must focus on myself, my work and my friends. I shall no longer look at NewsHour every night. I shall no longer pay any attention to politics or arguments about global warming.

This is not indifference but detachment — I still care deeply about the Middle East, about global warming, about growing inequality, but these are no longer my business; they belong to the future. I rejoice when I meet gifted young people — even the one who biopsied and diagnosed my metastases. I feel the future is in good hands.

Ainda que a notícia em si seja profundamente triste, o texto é tocante e muito iluminado.

Imagem via Boingboing.net

Kenji Ekuan

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A vivência da guerra, em particular a destruição absoluta da sua cidade natal, Hiroshima, levou Kenji Ekuan ao entendimento da nossa relação com as coisas e que, sejam elas valiosas ou meramente acessórias, são a materialização daquilo que somos.

Faced with that nothingness, I felt a great nostalgia for human culture. I needed something to touch, to look at, right then I decided to be a maker of things.

E foi no design que encontrou um caminho para a salvação.

The path of Buddha is the path to salvation for all living things, but I realized that, for me, the path to salvation lay in objects.

Desenhou, entre muitíssimas outras coisas, a garrafa de soja. Que tem tanto de vulgar como de elegante e erudita.

Morreu esta semana.

Referências

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Estes créditos às referências utilizadas (imediatamente a seguir ao nome do ilustrador) são um bom exemplo no que diz respeito a ética no trabalho de ilustração, onde é habitual recorrer ao tracing de fotografias, como se fosse a coisa mais natural deste mundo, e outras “inspirações” do género, que nada mais são do que sinais de preguiça e incapacidade.

Creditar referências em trabalhos de ilustração deveria ser encarado como uma normalidade, quanto mais não seja para evitar problemas legais, porque afinal ao tracejar uma fotografia podemos estar, literalmente, a passar por cima de propriedade alheia.

Como Fazer Uma Grelha de Quadradinhos em 5 Minutos

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Ou até menos. Depende da rapidez.

Acontece muitas vezes, durante workshops e até olhando para autores amigos ou com quem trabalhei, observar com atenção como é que desenham uma grelha de quadradinhos numa prancha de banda desenhada. Às vezes fico bastante perplexo com o tempo e a complexidade que investem, puxando linhas atrás de linhas, usando esta e aquela régua. Também há casos em que desenham a grelha no computador, imprimem e usam a mesa de luz, ou então, desistem e compram um bloco de pranchas prontas a usar.

Ainda que numa versão simplificada, passo a explicar um modo rápido e muito eficaz de fazerem uma grelha.Precisam do seguinte: X-Acto, lápis (de grafite mole), um esquadro e um cartão duro com o tamanho da vossa prancha. No cartão desenham uma grelha com as margens, dimensões e número de quadradinhos que pretendem. Neste exemplo, usei uma de 6. Desenhada que está a grelha, com o X-Acto, cortem e retirem o interior dos quadradinhos. Coloquem o cartão em cima da vossa folha e marquem a grelha a lápis.

Reparem que a grelha original que usei tem 6 quadradinhos, mas isso pode variar consoante o que preciso para cada prancha, já que podem unir na vertical e na horizontal, como podem ver na imagem.

E pronto.

“How To Make A Panel Grid In Five Minutes”, a handy tip for beginners, english version at Jessica Abel and Matt Madden’s Drawing Words & Writing Pictures website.

Presépio Português

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Há por aí muitos presépios minimalistas, esta é a minha versão. Feita com rolhas, no fim de um jantar. Maria é do Minho, José do Dão e Jesus do Douro. Talvez por isso tenha nascido já matulão e com farta cabeleira.

There are many minimalist Nativity scenes out there, this is my take. Made with wine corks, after dinner. Mary is from Minho, Joseph from Dão and Jesus from Douro. Maybe that’s why he was born already big and hairy.
Please, check the links, because each one is a different portuguese wine region. Portugal is the biggest cork producer in the world.

Portugueses Com Dinheiro

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Vistos pelos edos, do reino do Benim, onde hoje é a actual Nigéria, por volta do séc. XV ou XVI. Ambos com o nariz muito afiado, cabelos compridos, pluma no chapéus e a segurar uma corrente de manillas, moeda em forma de anel feito de bronze ou cobre, usada para comprar e vender escravos.

A avaliar pelo comprimento da corrente (cliquem na imagem para ampliar), estes dois portugueses eram, de facto, muito ricos. Ou pelo menos, os edos viam-nos como tal. A proporção das mãos e a enormidade das testas também impressionam. Nunca fomos um povo bonito, até porque a ganância e a inveja transfiguram as feições, disse-me um dia uma professora de arte. Sempre achei que tinha alguma razão, mas estava a generalizar, porque pode dizer-se o mesmo sobre a pobreza e o desespero.

Encontrei esta imagem num dos arquivos do MET, onde há outras muito interessantes procurando a palavra “portugueses”, como este retrato do império Safávida, Irão. Fui lá parar através do excelente Tumblr People of Color in European Art History (Gente de Cor na História de Arte Europeia), onde também há outras obras dedicadas aos portugueses.